Irmão,
nada é eterno, nada
sobrevive.
Recorda isto, e alegra-te.
A nossa vida
não é só a carga dos anos.
A nossa vereda
não é só o caminho
interminável.
Nenhum poeta tem o dever
de cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
mas aquele que a leva
não deve chorá-la sempre...
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Chegará um silêncio absoluto,
e, então, a música será
perfeita.
A vida inclinar-se-á ao
poente
para afogar-se em sombras
doiradas.
O amor há-de ser chamado do
seu jogo
para beber o sofrimento
e subir ao céu das lágrimas
...
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Apanhemos, no ar, as nossas
flores,
não no-las arrebate o vento
que passa.
Arde-nos o sangue e brilham
nossos olhos
roubando beijos que
murchariam
se os esquecêssemos.
É ânsia a nossa vida
e força o nosso desejo,
porque o tempo toca a
finados.
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Não podemos, num momento,
abraçar as coisas,
parti-las e atirá-las ao
chão.
Passam rápidas as horas,
com os sonhos debaixo do
manto.
A vida, infindável para o
trabalho
e para o fastio,
dá-nos apenas um dia para o amor.
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Sabe-nos bem a beleza
porque a sua dança volúvel
é o ritmo das nossas vidas.
Gostamos da sabedoria
porque não temos sempre de a
acabar.
No eterno tudo está feito e
concluído,
mas as flores da ilusão
terrena
são eternamente frescas,
por causa da morte.
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
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