Maria,
roga a Teu Filho que me
mostre o Pai.
Imagens sobrevêm:
homem, vinheta, instrumento,
o que ameaça ser um leque de
penas
e é uma cabeça de naja,
a perigosa serpente.
Quero ver o Pai, insisto,
roga a Teu Filho que me
mostre o Pai.
Um dente, uma vulva,
um molho de nabos comparecem,
gerados como eu, do nada.
De onde vêm os nabos, Maria?
Onde está o Pai?
De onde vim?
Move-se na parede um cavalo
de sol.
É o pai?
Não,
é só uma sombra e já se
desfaz.
O Pai, então, é uma usina?
Meu pai dizia: ó Pai!
E levantava os braços
respeitoso.
Também meu avô: Deus é Pai!
E tirava o chapéu.
Assim, um pai remetendo a
outro
e mais outro e outro mais,
enfim, a milhões de pais até
Adão,
que sou eu acordando de um
sonho,
apenas “raia sanguínea e
fresca”
a madrugada, filha de
parnasiano,
que me encantava quando eu
era mocinha,
filha de ferroviário,
cansada agora
como feirante ao meio-dia:
ai, meu pai,
me ajuda a torrar o resto
deste lote de abóboras,
me tira da cabeça
a ideia de ver Deus-Pai,
me dá um pito e um café.
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