É noite. A Lua, ardente e
terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .
Dormem as sombras na alameda
Ao longo do ermo Piabanha.
E dele um ruído vem de seda
Que se amarfanha . . .
No largo, sob os jambolanos,
Procuro a sombra embalsamada.
(Noite, consolo dos humanos!
Sombra sagrada!)
Um velho senta-se ao meu
lado.
Medita. Há no seu rosto uma
ânsia . . .
Talvez se lembre aqui,
coitado!
De sua infância.
Ei-lo que saca de um papel .
. .
Dobra-o direito, ajusta as
pontas,
E pensativo, a olhar o anel,
Faz umas contas . . .
Com outro moço que se cala,
Fala um de compleição
raquítica.
Presto atenção ao que ele
fala:
— É de política.
Adiante uma senhora magra,
Em ampla charpa que a modela,
Lembra uma estátua de
Tanagra.
E, junto dela,
Outra a entretém, a
conversar:
— "Mamãe não avisou se
vinha.
Se ela vier, mando matar
Uma galinha."
E embalde a Lua, ardente e
terna,
Verte na solidão sombria
A sua imensa, a sua eterna
Melancolia . . .
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