Quero comer não, mãe
(no canto do fogão o
caldeirão esmaltado)
quero comer não, mãe
(arroz com feijão,
macarrão grosso)
quero comer não, mãe
(sem massa de tomate)
quero comer não, mãe
(com gosto de serragem)
quero comer não, mãe
(com cheiro de carbureto)
quero comer não
(vi um gato no caminho,
fervendo de bicho)
quero comer não, mãe
(quando inaugurar a luz
elétrica e o pai
consumir com o gasômetro, eu
como).
Vamos ficar no escuro,
mãe. Põe lamparina,
põe gasômetro não, o azul
dele tem cheiro,
o cheiro entra na pele, na
comida, no pensamento,
toma a forma das coisas.
Quando a senhora tem raiva
sem xingar é igual a
ruindade do gasômetro,
a azuleza dele. Vomito,
mãe. Vou comer agora não.
Adélia Prado é demais.! Sua poesia tão real, impactante... Me recordei do cheiro do carbureto. Meu pai usava quando ia para as pescarias, e era assim mesmo , dava náuseas.
ResponderExcluirbjs.
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