Quero morrer de noite —
As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite
infinda.
Quero morrer de noite —
Irei me separando aos poucos,
Me desligando devagar.
A luz das velas moldará meu
rosto lívido.
Quero morrer de noite —
As janelas abertas,
Tuas mãos chegarão água aos
meus lábios
E meus olhos beberão a luz
triste dos teus olhos,
Os que virão, os que ainda
não conheço,
Estarão em silêncio,
Os olhos postos em mim.
Quero morrer de noite —
As janelas abertas,
Os olhos a fitar noite
infinda.
Aos poucos me verei pequenino
de novo, muito pequenino.
O berço se embalará na sombra
de uma sala
E na noite, medrosa, uma
velha coserá um enorme boneco.
Uma luz vermelha iluminará o
dormitório
E passos ressoarão quebrando
o silêncio.
Depois na tarde fria um
chapéu rolará numa estrada...
Quero morrer esta noite —
As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe
de tudo, para bem longe de tudo.
E quando todos souberem que
já não estou mais
E que nunca mais voltarei,
Haverá um segundo, nos que
estão
E nos que virão, de
compreensão absoluta.
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