Queixei-me de não ter
pão
e a noite me disse
não.
Mostrei-lhe a varanda
nua
e a Noite me trouxe a
lua...
Você tem sede, não é?
E a Noite me deu café.
São verdes como a
esperança
as horas em que sou
triste:
bem que existe não se
alcança,
só cansa;
procuro o que não
existe.
Se a dúvida me
procura,
pondo a cerração do
tédio
em minha existência
obscura,
bebo a esperança,
remédio
para as feridas sem
cura...
Que dúbio alvor de
camélia
anda lá fora a
flutuar?
É a Noite que, de tão
velha,
tão velha,
criou cabelos de
luar...
A insônia do meu
relógio
durante a noite
passada
crivou-me o corpo, já
enfermo,
de punhaladas
sonoras...
Meus olhos são duas
feridas
por onde
escorre o sangue das
horas.
Entre o passado e o
porvir
aqueles peixes de
prata
não me deixaram
dormir.
Tomei café sem parar.
Bebi treva em goles
mudos...
Criei cabelos de luar.
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