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Helena Kolody


Os que são raízes
amam as profundezas.
Crescem em segredo
em busca de fontes.

Os que são asas inquietas
anseiam amplidões.
Desenham signos de voo
no azul do sonho infinito.


Helena Kolody

O que penso, algo que falta
o que digo, puxa as raízes,
o que sou... sobe no caule,
pingo de chuva no mar.

Cantiga de roda - Helena Kolody



Ao som de ingênua cantiga,
Gira, ligeira, uma roda.

Bailam cabelos de linho,
Brilha a cantiga nos olhos,
Saltam, leves, os pezinhos.

Os grandes cedros antigos,
Também, se põem a bailar:
Cantam os ramos no ar,
Dançam as sombras no chão.

O eterno ausente - Helena Kolody,


A hora de partir foi tão inesperada!
Fechaste mansamente as portas da morada
E partiste.

Numa orgia floral, chegava a primavera,
Enchendo todo o céu de risadas de luz.

Por certo, o seu rumor feriu tu’alma triste
Cerraste mansamente as portas da morada
E partiste.


Helena kolody



A cada oscilar do pêndulo
algo se apaga
ou para nós termina.

De segundo em segundo,
algo germina
ou para nós floresce.

O dom de ouvir - Helena Kolody



Ouvir
Como quem abraça e beija
a alma solitária
dos que ninguém escuta.

Ouvir com o coração
a confidência,
a queixa,
a longa história
dos isolados
pela indiferença alheia.

Ouvir com os olhos
e afirmar:
eu compreendo.

Nem é preciso dizer nada.

Escuros caminhos - Helena Kolody



Quem chorava em meu sonho?
Eu ia deslembrada
pelos caminhos sem nexo
do escuro sono,
quando alguém soluçou.
Onde, nas algas profundas,
se enredava essa dor?
(Seu pranto doía no mundo.)
Quem soluçava em meu sonho,
tão perto que me acordou?

Devaneio - Helena Kolody



No silêncio interior,
a alma sonâmbula
põe-se a dançar.
A sombra de seu bailado
traça leves arabescos
na face do sonho
e desperta as palavras da canção.

Alegrias - Helena Kolody



As alegrias passam por mim
Qual um sonoro bando de aves brancas
Por sobre o espelho do mar.

A superfície vibra de inquietas imagens.
Mas a profundeza é sempre a mesma,
Sempre a mesma,
E é eternamente a mesma a direção das vagas.

Longe - Helena Kolody

Às vezes,
Tudo é tão longe de mim...
Meu viver parece uma história
Que alguém sonhou
Há muito tempo,
Num país distante.

Evolução - Helena Kolody



Caem as folhas de repente,
brotam outras pelos ramos,
murcham flores, surgem pomos
e a planta volta à semente.

Assim somos. Sutilmente,
diferimos do que fomos.

Impossível transmitir,
por secreto e singular,
o acrescentar e perder
desse crescer que é mudar.

Viagem - Helena Kolody

Era um pássaro triste.
Andorinha exaurida,
A viajar para longe.
Em suas asas tremia
Um prenúncio de morte.

A árvore acenou da distância
Um fraterno chamado.

Repousou a andorinha
E sonhou longamente,
Acordada.
E foi, aquele sonho, a vida.

Anoitecer - Helena Kolody

Amiúdam-se as partidas...
Também morremos um pouco
no amargor das despedidas.

Cais deserto, anoitecemos
enluarados de ausência.

Maquinomem - Helena Kolody

O homem esposou a máquina
e gerou um híbrido estranho:
um cronômetro no peito
e um dínamo no crânio.
As hemácias de seu sangue
são redondos algarismos.

Crescem cactos estatísticos
em seus abstratos jardins.

Exato planejamento,
a vida do maquinomem.
Trepidam as engrenagens
no esforço das realizações.

Em seu íntimo ignorado,
há uma estranha prisioneira,
cujos gritos estremecem
a metálica estrutura;
há reflexos flamejantes
de uma luz imponderável
que perturbam a frieza
do blindado maquinomem.

Olhos de antes - Helena Kolody



Em vão percorro a cidade
com meus olhos de antes.
As ruas não são as mesmas...
E são outros os passantes.