Colhe o dia, porque és ele - Ricardo Reis/ Fernando Pessoa
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Fernando Pessoa
O cavalo do mar - Lúcio Cardoso
Cavalga, cavalo,
o verde grande do mar.
Que seja roxa a espuma,
que seja pardo o luar
cavalga
cavalo
o verde tenso do mar.
É doido, escuro,
este pasto que luz
ao duro
sol do luar
- cavalga, cavalo,
cavalga infante e vassalo,
monstro azul
semilunar.
Alimária do existido,
em verde folha
parido -
reluz, ao teu cavalgar -
cavalo pardo e parado
animal imaginado
- o mar.
o verde grande do mar.
Que seja roxa a espuma,
que seja pardo o luar
cavalga
cavalo
o verde tenso do mar.
É doido, escuro,
este pasto que luz
ao duro
sol do luar
- cavalga, cavalo,
cavalga infante e vassalo,
monstro azul
semilunar.
Alimária do existido,
em verde folha
parido -
reluz, ao teu cavalgar -
cavalo pardo e parado
animal imaginado
- o mar.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Lúcio Cardoso
Minha terra - Caio Porfírio Carneiro
Minha terra
querida com laço de fita
eu rimaria sem pressa.
A minha terra é áspera
é tempo que se prolonga
desde avoengos tropéis
que o sopro do vento não mata
em espaço tão corrido
ao embalo desta rede.
Meu pé borrando a parede
e o ranger dos armadores
pra cá pra lá
pra lá pra cá
marca o tempo presente
tic-tac ao correr do tempo
que firma o mourão na terra
e com ela perpetua
currais porteiras campos
espelhos de águas tranqüilas
paredes buscando os céus
pé direito oito metros
janelas portas rangentes
alpendre aberto aos caminhos
retratos que fitam austeros
esperam muito de mim
e me eternizam aqui
na argila deste chão.
querida com laço de fita
eu rimaria sem pressa.
A minha terra é áspera
é tempo que se prolonga
desde avoengos tropéis
que o sopro do vento não mata
em espaço tão corrido
ao embalo desta rede.
Meu pé borrando a parede
e o ranger dos armadores
pra cá pra lá
pra lá pra cá
marca o tempo presente
tic-tac ao correr do tempo
que firma o mourão na terra
e com ela perpetua
currais porteiras campos
espelhos de águas tranqüilas
paredes buscando os céus
pé direito oito metros
janelas portas rangentes
alpendre aberto aos caminhos
retratos que fitam austeros
esperam muito de mim
e me eternizam aqui
na argila deste chão.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Caio Porfírio Carneiro
HAIKAI - Claudio Daniel
esse canto
é azul, azul, azul
quase branco
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
HAIKAI
Imagem - Cecília Meireles
Tão brando é o movimento
das estrelas, da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.
Desenha-se tão pura
como nunca a tiveste,
nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
da terrena aventura.
Como um cristal se aquieta
minha vida no sono,
venturosa e completa.
E teu rosto aprisiono
em grave luz secreta.
Teu silêncio em meu peito
de tal maneira existe,
reconhecido e aceito,
que chego a ficar triste
de vê-lo tão perfeito.
E não pergunto nada.
Espero que amanheça,
e a cor da madrugada
pouse na tua cabeça
uma rosa encarnada.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cecília Meireles
Fuga em azul menor - Cassiano Ricardo
O meu rosto de terra
ficará aqui mesmo
no mar ou no horizonte.
Ficará defronte
à casa onde morei.
Mas o meu rosto azul,
O meu rosto de viagem,
esse, irá pra onde irei.
Todo o mundo físico
que gorjeia lá fora
não me procure agora.
Embarquei numa nuvem
por um vão de janela
dos meus cinco sentidos.
E que adianta a alegria
dizer que estou presente
com o meu rosto de terra
se não estou em casa?
Inútil insistência.
Cortei em mim a cauda
das formas e das cores.
(A abstração é uma forma
de se inventar a ausência)
e estou longe de mim
nesta viagem abstrata
sem horizonte e fim.
Um dia voltarei
qual pássaro marítimo,
numa tarde bem mansa
à hora do sol posto.
Então, loura criança,
Ouvirás o meu ritmo
e me perguntarás:
quem és tu, pobre ser?
Mas, eu vim de tão longe
e tão azul de rosto
que não me podes ver.
A graça de quem mora
no país da ausência
certo consiste nisto:
ficar azul de rosto
pra não poder ser visto.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cassiano Ricardo
A canção mais recente - Cassiano Ricardo
O poeta
com sua lanterna
mágica está sempre
no começo das coisas.
É como a água eterna-
mente matutina.
Pouco importa a noite
lhe ponha a pena
do silêncio na asa.
Ele tem a manhã
em tudo quanto faça.
Nunca deixará de ter pássa-
ros.
com sua lanterna
mágica está sempre
no começo das coisas.
É como a água eterna-
mente matutina.
Pouco importa a noite
lhe ponha a pena
do silêncio na asa.
Ele tem a manhã
em tudo quanto faça.
Nunca deixará de ter pássa-
ros.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cassiano Ricardo
Recado aos Amigos Distantes - Cecília Meireles
Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.
Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.
Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.
Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.
Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.
Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.
Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.
Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.
Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cecília Meireles
Noite - Helena Kolody
Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Helena Kolody
Esperança - Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Mário Quintana
Novelo - Roseana Murray
Com fina linha prateada
o sonhador borda a sua vida:
na fronteira entre o dia e a noite,
entre uma estrela e outra,
uma palavra e sua sombra,
ergue um castelo de vento,
desfralda as bandeiras da paz.
o sonhador borda a sua vida:
na fronteira entre o dia e a noite,
entre uma estrela e outra,
uma palavra e sua sombra,
ergue um castelo de vento,
desfralda as bandeiras da paz.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Roseana Murray
Mar - Sophia de Mello B. Andresen
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Sophia de Mello B. Andresen
Nádia Dantas
brinca com o vento
braços verdes de esperança
traz a primavera
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Nádia Dantas
Assinar:
Postagens (Atom)