Atitude - Cecília Meireles
Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
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Cecília Meireles
Vésper - Hélio Pellegrino
Os poetas praticam
a jardinagem do Universo
Colhem estrelas maduras
no frontispício da tarde
A noite convoca suas doçuras
o alaúde de jasmineiros
a Via Láctea.
a jardinagem do Universo
Colhem estrelas maduras
no frontispício da tarde
A noite convoca suas doçuras
o alaúde de jasmineiros
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Trova do vento que passa - Manuel Alegre
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
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Inscrição - Cassiano Ricardo
A vida me foi sempre
dúplice, angulosa.
É cordial quando nega
e escassa quando dá.
Pois escreveu meu nome
sobre uma onda cega.
E quando tenho fome
me oferece uma rosa...
Palavras. São as penas
do meu pássaro lírico.
dúplice, angulosa.
É cordial quando nega
e escassa quando dá.
Pois escreveu meu nome
sobre uma onda cega.
E quando tenho fome
me oferece uma rosa...
Palavras. São as penas
do meu pássaro lírico.
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Cassiano Ricardo
Momento - Helena Kolody
O anjo da morte estendeu
Suas asas de sombra.
Cessou a pulsação das horas.
A maré da eternidade
Cresceu em silêncio.
Suas asas de sombra.
Cessou a pulsação das horas.
A maré da eternidade
Cresceu em silêncio.
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Helena Kolody
Luar em qualquer cidade - Carlos Drummond de Andrade
O luar deixava as coisas mais brancas.
As estrelas desapareciam.
As casa, as moitas: impregnadas
não de sereno, de luar.
Caminhávamos interminavelmente, sem afego,
sem pressa.
Caminhávamos através da lua.
E éramos dois seres habituais e dois fantasmas
ao mesmo tempo.
Lá longe era o mundo
àquela hora coberto de sol.
Mas haveria sol?
Boiávamos em luar. O céu,
uma difusa claridade. A terra,
menos que o reflexo dessa claridade.
Tão claros! tão calmos!
Estávamos mortos e não sabíamos,
sepultados, andando, nas criptas do luar.
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Epigrama do pássaro - Lêdo Ivo
"Precisamos deixar algo para a posteridade",
disse o poeta, contemplando o gari
que recolhia o lixo da cidade.
E o pássaro que não deixa nenhum canto após a morte
e se limita a ser vida no ar perene
que habita o instante
em silêncio pousou no ramo de uma árvore.
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Lêdo Ivo
Oração - Guimarães Rosa
O louva-deus, ereto, num caule de junquilho,
reza , de mãos postas, com punhais cruzados,
como um bandido calabrês...
reza , de mãos postas, com punhais cruzados,
como um bandido calabrês...
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Guimarães Rosa
Poema de sete faces - Carlos Drummond de Andrade
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
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Canção em segredo - Lya Luft
Dentro desta mulher
um anjo menino
brinca de ciranda na calçada
e tem fome de futuro.
Dentro desta mulher
uma criança se debruça na janela
vendo chegar o amor
e se julga imortal.
Dentro desta mulher
uma guerreira constrói sua vida
depois de parir filhos para o mundo.
Dentro desta mulher
outra mulher enterra o seu amor perdido
e mesmo assim espera.
(Dentro desta mulher
o mistério das coisas
finge dormir.)
um anjo menino
brinca de ciranda na calçada
e tem fome de futuro.
Dentro desta mulher
uma criança se debruça na janela
vendo chegar o amor
e se julga imortal.
Dentro desta mulher
uma guerreira constrói sua vida
depois de parir filhos para o mundo.
Dentro desta mulher
outra mulher enterra o seu amor perdido
e mesmo assim espera.
(Dentro desta mulher
o mistério das coisas
finge dormir.)
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O convite - Oriah Mountain Dreamer
Não me interessa o que você faz da vida.
O que eu quero saber é pelo que você anseia
e se se atreve a sonhar com os desejos do seu coração.
Não me interessa saber que idade você tem.
Eu quero saber se você se arriscaria a parecer tolo por amor,
pelos seus sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas fazem quadratura com a sua lua.
Quero saber se você tocou no âmago da sua própria dor
e se as traições da vida enriqueceram você
ou se você se fechou e retraiu com medo de sofrer mais.
Quero saber se você pode sentar-se com a dor, a minha e a sua,
sem um gesto para escondê-la, atenuá-la ou remediá-la.
Quero saber se você é capaz de viver plenamente a alegria,
a minha ou a sua, se pode dançar em total abandono
e deixar o êxtase penetrar seu corpo,
desde a ponta dos dedos, sem que você seja tentado
a nos aconselhar cautela ou a sermos realistas
ou sequer lembre das nossas limitações humanas.
Não me interessa se o que você me conta é verdade.
Quero saber se você correria o risco de desapontar alguém
para ser verdadeiro consigo mesmo.
Se aguentaria ser acusado de traição sem atraiçoar sua alma.
Se consegue ser infiel e, por isso, digno de confiança.
Quero saber se você consegue ver a Beleza
mesmo quando ela não é bela todos os dias.
E se consegue extrair sua própria vida dessa presença.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso,
o seu e o meu, e ainda assim ficar de pé na margem do lago
e gritar para o reflexo prateado da Lua Cheia, 'sim!'.
Não quero saber onde você mora ou quanto você ganha.
Quero saber se consegue levantar-se
depois de uma noite inteira de tristeza e desespero,
exausto e ferido, e ainda assim,
fazer o que for preciso para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece
ou como chegou até aqui.
Quero saber se você ficaria de pé
no centro do fogo comigo, sem recuar.
Não me interessa saber onde,
o que ou com quem você estudou.
Quero saber o que faz você permanecer inteiro
quando todo o resto desaba ao seu redor.
Quero saber se aguenta ficar sozinho consigo mesmo
e se ama verdadeiramente sua própria companhia
nos momentos de solidão.
O que eu quero saber é pelo que você anseia
e se se atreve a sonhar com os desejos do seu coração.
Não me interessa saber que idade você tem.
Eu quero saber se você se arriscaria a parecer tolo por amor,
pelos seus sonhos, pela aventura de estar vivo.
Não me interessa saber que planetas fazem quadratura com a sua lua.
Quero saber se você tocou no âmago da sua própria dor
e se as traições da vida enriqueceram você
ou se você se fechou e retraiu com medo de sofrer mais.
Quero saber se você pode sentar-se com a dor, a minha e a sua,
sem um gesto para escondê-la, atenuá-la ou remediá-la.
Quero saber se você é capaz de viver plenamente a alegria,
a minha ou a sua, se pode dançar em total abandono
e deixar o êxtase penetrar seu corpo,
desde a ponta dos dedos, sem que você seja tentado
a nos aconselhar cautela ou a sermos realistas
ou sequer lembre das nossas limitações humanas.
Não me interessa se o que você me conta é verdade.
Quero saber se você correria o risco de desapontar alguém
para ser verdadeiro consigo mesmo.
Se aguentaria ser acusado de traição sem atraiçoar sua alma.
Se consegue ser infiel e, por isso, digno de confiança.
Quero saber se você consegue ver a Beleza
mesmo quando ela não é bela todos os dias.
E se consegue extrair sua própria vida dessa presença.
Quero saber se você consegue viver com o fracasso,
o seu e o meu, e ainda assim ficar de pé na margem do lago
e gritar para o reflexo prateado da Lua Cheia, 'sim!'.
Não quero saber onde você mora ou quanto você ganha.
Quero saber se consegue levantar-se
depois de uma noite inteira de tristeza e desespero,
exausto e ferido, e ainda assim,
fazer o que for preciso para alimentar seus filhos.
Não me interessa quem você conhece
ou como chegou até aqui.
Quero saber se você ficaria de pé
no centro do fogo comigo, sem recuar.
Não me interessa saber onde,
o que ou com quem você estudou.
Quero saber o que faz você permanecer inteiro
quando todo o resto desaba ao seu redor.
Quero saber se aguenta ficar sozinho consigo mesmo
e se ama verdadeiramente sua própria companhia
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Lâmpada de Aladim - Helena Kolody
Palpitam em sua luz
Os desejos e os sonhos,
Lampeja o amanhã.
Resguardar dos ventos maus
A magia de seu lume.
Marcar
O ponto de fuga
Dos dias
Na linha iluminada do horizonte
Onde o infinito principia.
Quando tudo parecer
Perdido,
Escuro,
Avivar o fulgor da esperança
E acreditar:
Ainda vai ser!
Os desejos e os sonhos,
Lampeja o amanhã.
Resguardar dos ventos maus
A magia de seu lume.
Marcar
O ponto de fuga
Dos dias
Na linha iluminada do horizonte
Onde o infinito principia.
Quando tudo parecer
Perdido,
Escuro,
Avivar o fulgor da esperança
E acreditar:
Ainda vai ser!
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Amém - Cecília Meireles
Hoje acabou-se-me a palavra,
e nenhuma lágrima vem.
Ai, se a vida se me acabara
também!
A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo – e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?
Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus. . . E ninguém
entende o que se está contando
e a quem. . .
Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém.
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