O milagre - Mário Quintana
Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios
[de poesia...
E do lábio do amigo brotam palavras de eterno
[encanto...
Dias mágicos...
Em que os burgueses espiam,
Através das vidraças dos escritórios,
A graça gratuita das nuvens...
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Mário Quintana
Mulher Adormecida - Cecília Meireles
Moro no ventre da noite:
sou a jamais nascida.
E a cada instante aguardo vida.
As estrelas, mais o negrume
são minhas faixas tutelares,
e as areias e o sal dos mares.
Ser tão completa e estar tão longe!
Sem nome e sem família cresço,
e sem rosto me reconheço.
Profunda é a noite onde moro.
Dá no que tanto se procura.
Mas intransitável, e escura.
Estarei um tempo divino
como árvore em quieta semente,
dobrada na noite, e dormente.
Até que de algum lado venha
a anunciação do meu segredo
desentranhar-me deste enredo,
Arrancar-me á vagueza imensa,
consolar-me deste abandono,
mudar-me a posição do sono.
Ah, causador dos meus olhos,
que paisagem cria ou pensa
para mim, a noite densa?
sou a jamais nascida.
E a cada instante aguardo vida.
As estrelas, mais o negrume
são minhas faixas tutelares,
e as areias e o sal dos mares.
Ser tão completa e estar tão longe!
Sem nome e sem família cresço,
e sem rosto me reconheço.
Profunda é a noite onde moro.
Dá no que tanto se procura.
Mas intransitável, e escura.
Estarei um tempo divino
como árvore em quieta semente,
dobrada na noite, e dormente.
Até que de algum lado venha
a anunciação do meu segredo
desentranhar-me deste enredo,
Arrancar-me á vagueza imensa,
consolar-me deste abandono,
mudar-me a posição do sono.
Ah, causador dos meus olhos,
que paisagem cria ou pensa
para mim, a noite densa?
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Cecília Meireles
Todas as vidas - Cora Coralina
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho,
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho,
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.
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Cora Coralina
Fui eu - Fernando Py
Fui eu esse menino que me espia
- melancólico olhar, sereno rosto,
postura fixa e o todo bem composto -
no retrato que o tempo desafia.
Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa trocada em seu oposto.
Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.
Fui eu: e na figura só ficou
o olhar desenganado, na fumaça
em que a criança inteira se mudou.
- melancólico olhar, sereno rosto,
postura fixa e o todo bem composto -
no retrato que o tempo desafia.
Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa trocada em seu oposto.
Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.
Fui eu: e na figura só ficou
o olhar desenganado, na fumaça
em que a criança inteira se mudou.
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Fernando Py
Soneto do Pantanal - Odylo Costa, Filho
Este jardim me lembra outro jardim,
esta janela outra janela obscura,
e nos mundos sem fim mundo sem fim,
e após o mergulhar da escada escura,
uma aurora de plantas e de garças,
porto de bois, cavalos e meninos,
ninhos pendentes de árvores esparsas,
nos grandes céus os astros pequeninos
e as aves em cardumes navegantes,
rios róseos nas asas inaudíveis,
gritos, cantos cruzados pelo espaço,
mundo de ervas e de águas, onde dantes
os homens eram duros, mas sensíveis,
e a vereda no campo era seu traço.
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Odylo Costa
Lágrima - Jorge de Lima
Ó lágrima bendita e santa e universal,
Eu te quero cantar, e este meu canto inspire-o
A feição que eu te dei, de intérprete geral
Da dor – de todo ser infalível martírio…
Que processo te faz no minério em cristal,
E na gota que luz no cálice do lírio?
Talvez tenham os dois, uma tortura igual
À tortura que funde em lágrimas o círio.
Seja embora ilusão, hei de sempre mantê-la:
- No côncavo do céu, há lágrimas astrais
E o bólide celeste é a lágrima da estrela!
Malfadadas irmãs! – são lágrimas iguais:
A resina que cobre as árvores fendidas
E a lágrima de dor das íntimas feridas!
Eu te quero cantar, e este meu canto inspire-o
A feição que eu te dei, de intérprete geral
Da dor – de todo ser infalível martírio…
Que processo te faz no minério em cristal,
E na gota que luz no cálice do lírio?
Talvez tenham os dois, uma tortura igual
À tortura que funde em lágrimas o círio.
Seja embora ilusão, hei de sempre mantê-la:
- No côncavo do céu, há lágrimas astrais
E o bólide celeste é a lágrima da estrela!
Malfadadas irmãs! – são lágrimas iguais:
A resina que cobre as árvores fendidas
E a lágrima de dor das íntimas feridas!
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Jorge de Lima
D'amor e seus danos - Luís Vaz de Camões
Quem ora soubesse
onde o Amor nasce,
que o semeasse!
D'amor e seus danos
me fiz lavrador;
semeava amor
e colhia enganos;
não vi, em meus anos,
homem que apanhasse
o que semeasse.
Vi terra florida
de lindos abrolhos,
lindos para os olhos,
duros para a vida;
mas a rês perdida
que tal erva pace
em forte hora nasce.
Com quanto perdi,
trabalhava em vão;
se semeei grão,
grande dor colhi.
Amor nunca vi
que muito durasse,
que não magoasse.
onde o Amor nasce,
que o semeasse!
D'amor e seus danos
me fiz lavrador;
semeava amor
e colhia enganos;
não vi, em meus anos,
homem que apanhasse
o que semeasse.
Vi terra florida
de lindos abrolhos,
lindos para os olhos,
duros para a vida;
mas a rês perdida
que tal erva pace
em forte hora nasce.
Com quanto perdi,
trabalhava em vão;
se semeei grão,
grande dor colhi.
Amor nunca vi
que muito durasse,
que não magoasse.
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O Tocador de Clarineta - Cassiano Ricardo
Quando ouvires o pássaro
Cantar em frente do teu quarto,
Naturalmente em vão,
não penses
que sou eu que aí vim tocar,
não.
Quando o vento disser,
ao teu ouvido de mulher
uma palavra
branca e fria como a cerração,
não penses que o vento fui eu,
não.
Quando receberes
uma carta anônima, trazida
por secreta mão
- quem será que assim me acusa? -
eu é que não serei,
não.
Quando ouvires, porém, no escuro,
a goteira caindo
sobre o triste chão, aí, então,
serei eu que estou batendo
na pedra
do teu coração.
Cantar em frente do teu quarto,
Naturalmente em vão,
não penses
que sou eu que aí vim tocar,
não.
Quando o vento disser,
ao teu ouvido de mulher
uma palavra
branca e fria como a cerração,
não penses que o vento fui eu,
não.
Quando receberes
uma carta anônima, trazida
por secreta mão
- quem será que assim me acusa? -
eu é que não serei,
não.
Quando ouvires, porém, no escuro,
a goteira caindo
sobre o triste chão, aí, então,
serei eu que estou batendo
na pedra
do teu coração.
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Cassiano Ricardo
Olhos de antes - Helena Kolody
Em vão percorro a cidade
com meus olhos de antes.
As ruas não são as mesmas...
E são outros os passantes.
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Helena Kolody
Louvação de Daniel - Henriqueta Lisboa
Como és belo, ó Daniel
dos bíblicos arcanos
aos vagares do pouco
de Congonhas do Campo.
Sob o céu constelado,
pela chuva batido,
prisioneiro da pedra
como dantes cativo,
todavia talhado
para sobrançarias.
Príncipe em terra estranha,
como outrora imperaste
sobre reis, por teu ânimo
e donaire de porte,
pela divina graça
permaneces magnífico
para as eternidades.
Mais que aos outros profetas
o Aleijadinho amou-te,
recompondo-te a essência
na harmonia do todo.
Dentre os blocos de pedra
pelo rolar dos tempos
receberás o orvalho
da estrela. Sol e azul
te saudarão primeiro.
Pássaros da distância
com preferência clara
pousarão no teu ombro.
Leão que outrora domaste
(mas com que destemor
numa esteita caverna!)
com submissa volúpia
bebe-te hoje os olhares
aos reflexos da lua.
Pensativa cabeça
sem orgulho, que sábia
posição escolheste
para ser e não ser!
Decifrador de enigmas
pelos designíos do alto,
que em ti mesmo encontravas
as raízes da vida.
Não foi em vão, Daniel,
que salvaste Susana,
cavalheiro perfeito
pelas dobras do manto.
Giro em torno de ti,
Daniel, desapareço.
Prenunciando o Messias
continuas de pedra
pelas noites e os dias
passageiros e eternos.
dos bíblicos arcanos
aos vagares do pouco
de Congonhas do Campo.
Sob o céu constelado,
pela chuva batido,
prisioneiro da pedra
como dantes cativo,
todavia talhado
para sobrançarias.
Príncipe em terra estranha,
como outrora imperaste
sobre reis, por teu ânimo
e donaire de porte,
pela divina graça
permaneces magnífico
para as eternidades.
Mais que aos outros profetas
o Aleijadinho amou-te,
recompondo-te a essência
na harmonia do todo.
Dentre os blocos de pedra
pelo rolar dos tempos
receberás o orvalho
da estrela. Sol e azul
te saudarão primeiro.
Pássaros da distância
com preferência clara
pousarão no teu ombro.
Leão que outrora domaste
(mas com que destemor
numa esteita caverna!)
com submissa volúpia
bebe-te hoje os olhares
aos reflexos da lua.
Pensativa cabeça
sem orgulho, que sábia
posição escolheste
para ser e não ser!
Decifrador de enigmas
pelos designíos do alto,
que em ti mesmo encontravas
as raízes da vida.
Não foi em vão, Daniel,
que salvaste Susana,
cavalheiro perfeito
pelas dobras do manto.
Giro em torno de ti,
Daniel, desapareço.
Prenunciando o Messias
continuas de pedra
pelas noites e os dias
passageiros e eternos.
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Sou Eu - Álvaro de Campos (F. Pessoa)
Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio!...
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconsequente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio!...
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Fernando Pessoa
Salve As Folhas - Gerônimo / Ildásio Tavares
Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem festa
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada
Quem é você e o que faz por aqui
Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha
Sou Aroni
Cosi euê
Cosi orixá
Euê ô
Euê ô orixá
Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem festa
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada
Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha
Sou aroni
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Gerônimo / Ildásio Tavares
Il poverello - José Paulo Paes
Desgrenhado e meigo, andava na floresta.
Os pássaros dormiam em seus cabelos.
As feras o seguiam mansamente.
Os peixes bebiam-lhe as palavras.
Dentro dele todo o caos se resolvera
Numa ingênua certeza: — “Preguei a paz,
Mostrei o erro, domei a força, curei o mal.
Antes de mim, o crime. Depois de mim, o amor.”
Mas a floresta esqueceu, no outro dia,
O bíblico sermão e, novamente,
O lobo comeu a ovelha, a águia comeu a pomba,
Como se nunca houvera santos nem sermões.
Os pássaros dormiam em seus cabelos.
As feras o seguiam mansamente.
Os peixes bebiam-lhe as palavras.
Dentro dele todo o caos se resolvera
Numa ingênua certeza: — “Preguei a paz,
Mostrei o erro, domei a força, curei o mal.
Antes de mim, o crime. Depois de mim, o amor.”
Mas a floresta esqueceu, no outro dia,
O bíblico sermão e, novamente,
O lobo comeu a ovelha, a águia comeu a pomba,
Como se nunca houvera santos nem sermões.
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