Poema 25 de Metal Rosicler - Cecília Meireles
Com sua agulha sonora
borda o pássaro o cipreste:
rosa ruiva da aurora,
folha celeste.
E com tesoura sonora
termina o bordado aéreo.
Silêncio. E agora
parte para o mistério.
A ruiva rosa sonora
com sua folha celeste
imperecível mora
no cipreste.
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Cecília Meireles
A chuva - Humberto Ak'aba
Ontem encontrei uma nuvem chorando.
Contou-me que havia levado sua água
à cidade
e se perdera.
Procurou paisagens,
e a cidade as havia engolido.
Descalça, triste e sozinha,
regressou.
Voltou a chover no campo;
xaras e sanates
festejaram.
E cantaram os sapos.
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Humberto Ak'abal
Eu não vou perturbar a paz - Manoel de Barros
De tarde um homem tem esperanças.
Está sozinho, possui um banco.
De tarde um homem sorri.
Se eu me sentasse a seu lado
Saberia de seus mistérios
Ouviria até sua respiração leve.
Se eu me sentasse a seu lado
Descobriria o sinistro
Ou doce alento de vida
Que move suas pernas e braços.
Mas ah! eu não vou perturbar a paz
que ele depôs na praça, quieto.
Está sozinho, possui um banco.
De tarde um homem sorri.
Se eu me sentasse a seu lado
Saberia de seus mistérios
Ouviria até sua respiração leve.
Se eu me sentasse a seu lado
Descobriria o sinistro
Ou doce alento de vida
Que move suas pernas e braços.
Mas ah! eu não vou perturbar a paz
que ele depôs na praça, quieto.
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Manoel de Barros
Bem-te-vi... Bem-te-vi... Cora Coralina
Que terás visto?
Há quanto tempo tu avisas, bem-te-vi...
Bem-te-vi da minha infância, sempre a gritar,
sempre a contar, fuxiqueiro,
e não viste nada.
Meu amiguinho, preto-amarelo.
Em que ninho nasceste, de que ovinho vieste,
e quem te ensinou a dizer: Bem-te-vi?...
Bem te vejo, queria eu também cantar e repetir
para ti: Bom dia, bem te vejo, te escuto.
Bem-te-vi sobrevivente
de tantos que já não voam sobre o rio,
nem pousam nas palmas dos coqueiros altos...
Mostra para mim,
meu velho companheiro de uma infância ultrapassada,
tua casa, tua roça, teu celeiro, teu trabalho, tua mesa de comer,
tuas penas de trocar,
leva-me à tua morada de amor e procriar.
Vamos ao altar de Deus agradecer ao criador
não desaparecerem de todo os Bem-te-vis
dos Reinos de Goiás.
Canta para mim, tão antiga como tu,
as estorinhas do passado.
Bem-te-vi inzoneiro, malicioso e vigilante.
Conta logo o que viste, fuxiqueiro do espaço,
sempre nas folhas dos coqueiros altos,
que também vão morrendo devagar como morrem os coqueiros,
comidos de velhice e de lagartas.
Há quanto tempo tu avisas, bem-te-vi...
Bem-te-vi da minha infância, sempre a gritar,
sempre a contar, fuxiqueiro,
e não viste nada.
Meu amiguinho, preto-amarelo.
Em que ninho nasceste, de que ovinho vieste,
e quem te ensinou a dizer: Bem-te-vi?...
Bem te vejo, queria eu também cantar e repetir
para ti: Bom dia, bem te vejo, te escuto.
Bem-te-vi sobrevivente
de tantos que já não voam sobre o rio,
nem pousam nas palmas dos coqueiros altos...
Mostra para mim,
meu velho companheiro de uma infância ultrapassada,
tua casa, tua roça, teu celeiro, teu trabalho, tua mesa de comer,
tuas penas de trocar,
leva-me à tua morada de amor e procriar.
Vamos ao altar de Deus agradecer ao criador
não desaparecerem de todo os Bem-te-vis
dos Reinos de Goiás.
Canta para mim, tão antiga como tu,
as estorinhas do passado.
Bem-te-vi inzoneiro, malicioso e vigilante.
Conta logo o que viste, fuxiqueiro do espaço,
sempre nas folhas dos coqueiros altos,
que também vão morrendo devagar como morrem os coqueiros,
comidos de velhice e de lagartas.
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Cora Coralina
Os raios e as sombras - Tristeza do Olimpo - Victor Hugo
... "Tão pouco tempo é suficiente para mudar todas as coisas!
Natureza com a fronte serena, como você esquece!
E como vós se feres em suas metamorfoses
Os filhos misteriosos de onde nossos corações são limitados!
... "O limite do caminho, que vive uma jornada sem fim,
Onde antes de me entender ele gostaria de se sentar,
Cansou de golpear, quando a estrada é escura,
As grandes carruagens gémissants que volta da noite.
... "Outros irão passar agora aonde nós passamos.
Nós viemos de lá, outros virão de vir,
e o sonho que esboçará em nossas duas almas
Eles continuarão sem nunca ter fim!
... " Responda , puro vale pequeno, responda, solidão,
Oh Natureza protegida neste deserto tão belo,
Quando nós dormiremos ambos de qualquer jeito,
Distribuir as mortes pensativas em forma da tumba;
... "É o que vós seria capaz, sem tristeza e sem pranto,
Ver nosso sombras flutuantes não trabalharem por nós,
E ver o ensinamento, num abraço sombrio,
Versos de qualquer origem em lágrimas que soluçam profundamente?
... " Eh bem! Nos esqueça, casa, jardim, sombra;
Erva, use nossa soleira! Arbusto, não nos esconda!
Cantem, pássaros! Rios, corram! Cresçam, folhagens!
Esses que vós esqueceis não os esquecerão.
" Porque vós sois para nós a sombra do mesmo amor,
Vós sóis o oásis daquele que se encontra na senda !
Vós sóis , oh pequeno vale, o descanso supremo ,
Onde nós choramos segurando-nos pelas mãos!
" Todas as paixões mudam com o tempo,
Umas levam a nos mascarar e o outras nos esfaqueiam,
Como uma multidão cantando na viagem
De quem o grupo diminui atrás da pequena colina.
"... E lá, por esta noite em que nenhuma raio de estrela ,
A alma, em uma dobra escura onde tudo parece terminar,
Sente qualquer coisa a palpitar debaixo de um véu...
És tu que dorme na sombra, oh sacra lembrança!"
Natureza com a fronte serena, como você esquece!
E como vós se feres em suas metamorfoses
Os filhos misteriosos de onde nossos corações são limitados!
... "O limite do caminho, que vive uma jornada sem fim,
Onde antes de me entender ele gostaria de se sentar,
Cansou de golpear, quando a estrada é escura,
As grandes carruagens gémissants que volta da noite.
... "Outros irão passar agora aonde nós passamos.
Nós viemos de lá, outros virão de vir,
e o sonho que esboçará em nossas duas almas
Eles continuarão sem nunca ter fim!
... " Responda , puro vale pequeno, responda, solidão,
Oh Natureza protegida neste deserto tão belo,
Quando nós dormiremos ambos de qualquer jeito,
Distribuir as mortes pensativas em forma da tumba;
... "É o que vós seria capaz, sem tristeza e sem pranto,
Ver nosso sombras flutuantes não trabalharem por nós,
E ver o ensinamento, num abraço sombrio,
Versos de qualquer origem em lágrimas que soluçam profundamente?
... " Eh bem! Nos esqueça, casa, jardim, sombra;
Erva, use nossa soleira! Arbusto, não nos esconda!
Cantem, pássaros! Rios, corram! Cresçam, folhagens!
Esses que vós esqueceis não os esquecerão.
" Porque vós sois para nós a sombra do mesmo amor,
Vós sóis o oásis daquele que se encontra na senda !
Vós sóis , oh pequeno vale, o descanso supremo ,
Onde nós choramos segurando-nos pelas mãos!
" Todas as paixões mudam com o tempo,
Umas levam a nos mascarar e o outras nos esfaqueiam,
Como uma multidão cantando na viagem
De quem o grupo diminui atrás da pequena colina.
"... E lá, por esta noite em que nenhuma raio de estrela ,
A alma, em uma dobra escura onde tudo parece terminar,
Sente qualquer coisa a palpitar debaixo de um véu...
És tu que dorme na sombra, oh sacra lembrança!"
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Balanço - Carlos Drummond de Andrade
A pobreza do eu
a opulência do mundo
A opulência do eu
a pobreza do mundo
A pobreza de tudo
a opulência de tudo
A incerteza de tudo
na certeza de nada.
a opulência do mundo
A opulência do eu
a pobreza do mundo
A pobreza de tudo
a opulência de tudo
A incerteza de tudo
na certeza de nada.
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Carlos Drummond de Andrade
Ursa maior - Lau Siqueira
andarilho de estrelas vasto
como um átomo humano e
coisa indefinida habitante
do mistério e da luz
vou destruindo muros aos m
urros e ouvindo b
e rros de alegria e cansaço
nos cardumes do
aleatório
vivo
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Lau Siqueira
Cecília Meireles
Se estive no mundo
ou fora do mundo...?
Mas que lhe respondo,
se o Arcanjo pergunta,
num tempo profundo?
No mundo passava:
porém muito longe.
Por sonhos e amores
me desintegrava.
O mundo não via:
minha permanência
foi, por toda parte,
fantasmagoria.
Dava, mas não tinha.
E, nessa abundância,
nada me ficava:
nem sei se fui minha.
Se estive no mundo
ou fora do mundo?
-Assim me apresento,
se o Arcanjo pergunta
meu nome profundo.
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Cecília Meireles
Criança, era outro... Fernando Pessoa
Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi ?
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi ?
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Fernando Pessoa
Segredos - Eloí Elizabet Bocheco
Rosalina tem
segredos de
várias cores.
O segredo verde
ela conta só no
ouvido do beija-flor.
O segredo lilás
ela prende no cabelo
e vai passear com a
Gata Lina numa caverna
quase de verdade.
O segredo transparente
ela põe pra tingir no
sol de setembro.
O segredo azul
ela conta só pra mim,
que não conto
pra ninguém.
Quem sabe,
no ano que vem..
segredos de
várias cores.
O segredo verde
ela conta só no
ouvido do beija-flor.
O segredo lilás
ela prende no cabelo
e vai passear com a
Gata Lina numa caverna
quase de verdade.
O segredo transparente
ela põe pra tingir no
sol de setembro.
O segredo azul
ela conta só pra mim,
que não conto
pra ninguém.
Quem sabe,
no ano que vem..
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Eloí Elizabet Bocheco
Soneto - Mário Faustino
Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler
À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.
Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso
Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.
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Mario Faustino
Sobre as muralhas do mar - Cecília Meireles
Sobre as muralhas do mar
conversaremos.
Sobre as muralhas do mar, entre areias,
espumas, colunas,
o que passa e o que perdura.
Conversaremos.
Conversaremos de um tempo
que imaginamos.
Que não houve: azuis e verdes
caminhos, destinos, glórias.
Conversaremos.
Os muros do mar são altos.
E esquecemos.
E as perguntas ficam intactas,
não mudadas em respostas.
Como é o som das palavras sobre as ondas?
E um riso de asas, de brisas
de uma alegria selvagem escutaremos.
No longínquo mar das almas.
Não conversaremos.
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Cecília Meireles
Humberto Ak'abal
Nas vozes
das velhas árvores
reconheço as dos meus ancestrais.
Sentinelas de séculos,
seu sonho está nas raízes.
das velhas árvores
reconheço as dos meus ancestrais.
Sentinelas de séculos,
seu sonho está nas raízes.
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HAIKAI - Pedro Xisto
embalantes alas
lento bailado a lembrança
enlaçando as almas
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Ainda Te Levarei - Marina Colasanti
Ainda te levarei
Amor
Para comer nozes frescas
Na montanha
E pendurar cerejas nas orelhas
Como se fossem flores
Ou rubis.
As nozes
Meu amor
Mancham os dedos
E são verdes e exatas
Como ovos.
Estará tudo lá
à nossa espera
morangueiras quebradas
lagartixas.
Só não estará meu medo
de menina
aquele mais escuro que os ciprestes
ecos no mato passos sobre a ponte
garras na saia vento nos cabelos
e o latejar das veias repetindo
estou sozinha
e ninguém me salva
Amor
Para comer nozes frescas
Na montanha
E pendurar cerejas nas orelhas
Como se fossem flores
Ou rubis.
As nozes
Meu amor
Mancham os dedos
E são verdes e exatas
Como ovos.
Estará tudo lá
à nossa espera
morangueiras quebradas
lagartixas.
Só não estará meu medo
de menina
aquele mais escuro que os ciprestes
ecos no mato passos sobre a ponte
garras na saia vento nos cabelos
e o latejar das veias repetindo
estou sozinha
e ninguém me salva
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Marina Colasanti
Sabiá I - Cecília Meireles
Não me adianta dizer nada,
Sabiá,
porque não nos entendemos.
Mas essa melancolia
da tua queixosa toada,
Sabiá,
bate no meu coração
como batem n'água os remos
que nunca mais voltarão.
O que dizes quando cantas,
Sabiá,
tão bem se ajusta ao que penso,
que mais prefiro escutar-te.
Minhas tristezas são tantas,
Sabiá,
que já nem sei quantas são.
Como é duro, negro, extenso,
o campo da ingratidão!
Não sinto mais no meu peito,
Sabiá,
força para aquele verso
com que outrora me explicava:
e por isso me deleito,
Sabiá,
quando te ouço... Entenderão
os ouvidos do universo
nossa comum solidão?
Sabiá,
porque não nos entendemos.
Mas essa melancolia
da tua queixosa toada,
Sabiá,
bate no meu coração
como batem n'água os remos
que nunca mais voltarão.
O que dizes quando cantas,
Sabiá,
tão bem se ajusta ao que penso,
que mais prefiro escutar-te.
Minhas tristezas são tantas,
Sabiá,
que já nem sei quantas são.
Como é duro, negro, extenso,
o campo da ingratidão!
Não sinto mais no meu peito,
Sabiá,
força para aquele verso
com que outrora me explicava:
e por isso me deleito,
Sabiá,
quando te ouço... Entenderão
os ouvidos do universo
nossa comum solidão?
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