Não se chora apenas
com a noite estendida sobre o sono dos homens,
com o silêncio pulsando em poros de imperceptíveis silvos
trêmulos, sussurrantes, urdindo a trama de inúmeros aléns.
Não se chora apenas
com a solidão concentrada em firmes bosques,
num chão de sombras por onde as lágrimas se embebam,
e nem a palidez das estrelas seja um breve indício de
presença.
Não se chora sempre de cara virada para um tranquilo muro.
Nem sempre se pode dizer: é da ausência, é da noite,
é do silêncio, é do deserto...
da planície vazia, do mar fatigante, do assombro enorme da
treva...
Chora-se em pleno dia, à luz do sol, diante do mundo
povoado.
Caem lágrimas em pedras quentes, com borboletas, flores,
gorjeios,
nuvens brancas, moças cantando, janelas abertas, ruas
alegres.
Alguma coisa em nós é maior e mais grave que as expansões da
vida,
alguma coisa é maior que o candelabro azul do dia
com flores, pássaros, canções entrelaçados nos seus doze
braços.
Nem é de nós, nem nos pertence.
Sentimos que é da terra e dos homens,
da desordem do tempo,
da espada das paixões sobre o peito do sonho.
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