Se me perguntais onde estive
devo dizer “Ocorre”.
Devo falar do limo que
escurece as pedras,
do rio que durando se
destrói:
Nada sei além das coisas que
os pássaros perderam,
o mar deixado atrás ou minha
irmã chorando.
Por que tantas regiões, por
que um dia
se junta a outro dia? Por que
uma negra noite
se acumula na boca? Por que
há mortos?
Se me perguntais de onde
venho, terei que conversar
com coisas mortas,
com utensílios demasiado
amargos,
com grandes bestas geralmente
pútridas
e com o meu angustiado
coração.
Não são lembranças daqueles
que se foram
nem a pomba amarelecida que
dorme no esquecimento.
Apenas rostos com lágrima,
dedos na garganta
e o que se desmorona das
folhas,
a obscuridade de um dia
transcorrido,
de um dia alimentado com
nosso triste sangue.
Eis aqui violetas,
andorinhas,
tudo o que nos apraz e que
aparece
nesses cartões-postais de
cauda longa
por onde passeiam o tempo e a
doçura.
Além desses dentes, porém,
não penetremos,
nem mordamos as cascas que o
silêncio acumula.
Porque não sei que responder:
Há tantos mortos
e tantos paredões que o rubro sol partia
e tantas cabeças batendo
contra os barcos
e tantas mãos que encarceravam
beijos
e tantas coisas que desejo
esquecer.
Neruda, o poeta do amor...que eu gosto muito.
ResponderExcluirBeijinho
Eu também, JP.
ResponderExcluirBom final de semana!
Beijo :)
tantas mãos que encarceravam beijos
ResponderExcluire tantas coisas que desejo esquecer.
Tão bonito...