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Abismal - Helena Kolody

Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos inferiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está distante de mim.
Se eu estendesse a mão, tocaria sua face.
Mas os cinco dedos pendem como um lírio murcho
Ao longo do vestido.

Aqui tudo é leve, silencioso, indefinido,
imóvel.
Não tenho mais limites.
Tornei-me fluida como o ar.
Seus olhos tem apelos magnéticos,
Mas estou abismada
Em profundezas infinitas.

Espelhismo - Helena Kolody

Olhou numa poça d’água
E viu a mão estendida.

Alongou a própria destra,
Num impulso de acolhida

Mas, a mão tocou em nada.

Era, apenas, refletida
No espelho da água parada,
A sua mão estendida.

Presença - Helena Kolody



Coragem de andar
sobre os precipícios
sem desfalecer,
entre labaredas,
mas não se queimar,
com os violentos
e os indiferentes,
no mundo inimigo,
sem deixar de amar.

Momento - Helena Kolody

O anjo da morte estendeu
Suas asas de sombra.

Cessou a pulsação das horas.
A maré da eternidade
Cresceu em silêncio.

Lâmpada de Aladim - Helena Kolody

Palpitam em sua luz
Os desejos e os sonhos,
Lampeja o amanhã.

Resguardar dos ventos maus
A magia de seu lume.

Marcar
O ponto de fuga
Dos dias
Na linha iluminada do horizonte
Onde o infinito principia.

Quando tudo parecer
Perdido,
Escuro,
Avivar o fulgor da esperança
E acreditar:
Ainda vai ser!

Algemas - Helena Kolody

Ergo para as estrelas minhas mãos fortes,
Sedentas de realizações.

Nalgum recanto escuro e subterrâneo,
Há mãos algemadas, pés que arrastam grilhões.

Uma angústia funda e estranha
Espia, como fera inquieta,
Pelas grades de ignoradas
Portas de prisões

Sensibilidade - Helena Kolody


Meu coração,
É um quarto de espelhos,
Que reflete e multiplica,
Infinitamente,
Uma impressão.

É como o eco
Dos longos corredores desertos,
Que repete e amplifica,
Misteriosamente,
Uma palavra.

É como um frasco de perfume raro
Que guardou,
Para sempre,
Um leve aroma da essência que encerrou.

Infinito presente - Helena Kolody

No movimento veloz
de nossa viagem,
embala-nos a ilusão
da fuga do tempo.

Poeira esparsa no vento,
apenas passamos nós.
O tempo é mar que se alarga
num infinito presente.

Fraternal - Helena Kolody

Meu canto de amor, como bálsamo
Para as cansadas mãos embrutecidas.
e para as tristes vidas deformadas.

Meu canto de amor, envolvente,
A esconder a pobreza disfarçada
De quem finge ter tudo e não tem nada.

Canto em surdina, luar nevando música,
Para a bondade sábia da velhice,
Seu riso de renúncia e de perdão.

Claro canto, impetuoso como o vento,
Para os jovens, que abalam o universo
À força de entusiasmo e de talento.

Meu canto de amor, como os sinos da Páscoa,
Para as crianças, humanidade a ressurgir,
Numa eterna promessa de redenção.

Antes - Helena Kolody

Antes que desça a noite,
imprimir na retina
os rostos amados,
o sol,
as cores,
o céu de outono
e os jardins da primavera.

Inundar de sons
de vozes
e de música eterna
os ouvidos,
antes que os atinja
a maré do silêncio.

Conquistar
os pontos culminantes
da vida,
antes que se esgote
o prazo da permanência
em seu território sagrado.

Canção de ninar - Helena Kolody

(para uma criança da favela)

Criança, és fio d'água
Triste desde a fonte.
Humilde plantinha
Nascido em monturo:
Quanta ausência mora
Nesse olhar escuro!

Recosta a cabeça
Na minha cantiga
Deixa que te envolva,
Que te beije e embale.