Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
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Brisa - Sophia de Mello B. Andresen
Que branca mão na brisa se despede?
Que palavra de amor
A noite de Maio em si recebe e perde?
Desenha-te o luar como uma estátua
Que no tempo não fica
Quem poderá deter
O instante que não pára de morrer?
Que palavra de amor
A noite de Maio em si recebe e perde?
Desenha-te o luar como uma estátua
Que no tempo não fica
Quem poderá deter
O instante que não pára de morrer?
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Mar - Sophia de Mello B. Andresen
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
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Inicial - Sophia de Mello B. Andresen
O mar azul e branco e as luzidias
Pedras - o arfado espaço onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida.
Pedras - o arfado espaço onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida.
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Um dia - Sophia de Mello B. Andresen
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.
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Que nenhuma estrela - Sophia de Mello B. Andresen
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
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Cidade - Sophia de Mello B. Andresen
Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
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Jardim - Sophia de Mello Breyner Andresen
Alguém diz:
"Aqui antigamente houve roseiras"
- Então as horas
Afastam-se estrangeiras,
Como se o tempo fosse feito de demoras.
"Aqui antigamente houve roseiras"
- Então as horas
Afastam-se estrangeiras,
Como se o tempo fosse feito de demoras.
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O Poema - Sophia de Mello Andresen
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê.
O poema alguém o dirá
Às searas.
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento.
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento.
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas.
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo.
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê.
O poema alguém o dirá
Às searas.
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento.
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento.
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas.
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo.
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Mar sonoro - Sophia de Mello Breyner Andresen
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
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No mar passa - Sophia de Mello Breyner Andresen
No mar passa de onda em onda repetido
O meu nome fantástico e secreto
Que só os anjos do vento reconhecem
Quando os encontro e perco de repente.
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Liberdade - Sophia de Mello Breyner Andresen
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
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PRAIA - Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho ao longo dos oceanos frios
As ondas desenrolam os seus braços
E brancas tombam de bruços
A praia é lisa e longa sob o vento
Saturada de espaços e maresia
E para trás fica o murmúrio
Das ondas enroladas como búzios.
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Ó noite, flor acesa, quem te colhe?
Sou eu que em ti me deixo anoitecer,
Ou o gesto preciso que te escolhe
Na flor dum outro ser?
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