Relatório Lírico - Hélio Pellegrino
Hoje sonhei contigo. Amanhã Sonharei contigo. Depois de
Amanhã sonharei contigo, de
Novo. E novamente sonharei
Contigo, depois, e depois,
Enquanto gire a cor dos calendários.
Sonho contigo dia e noite. E te
Cumprimento, apenas, noite e
Dia, e te digo — dia e noite —
As palavras banais de todo o
Dia. Diariamente sofro a tua
Presença, de noite e de dia,
Em todas as horas do dia te
Sonho de noite, e pela noite
Me apareces como o dia — Carmen,
Rosa, poesia, macia flor, feita
De noite e de dia.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Hélio Pellegrino
Louca - Mário Quintana
SúbitoEm meio àquele escuro quarteirão fabril
Das minhas mãos se escapou um pássaro maravilhoso
E eu te amei como quem solta um grito,
Ó Lua enorme
Incompreensível...
Por que sempre me espantas e me assustas, Louca,
Como se eu te visse sempre pela primeira vez?!
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Mário Quintana
Amo as horas nocturnas - Rainer Maria Rilke
Amo as horas nocturnas do meu serem que se me aprofundam os sentidos;
nelas fui eu achar, como em cartas velhíssimas,
já vivida a vida dos meus dias
e como lenda longínqua e superada.
Delas eu aprendi que tenho espaço
para uma segunda vida, vasta e sem tempo.
E por vezes me sinto como a árvore
que, madura e rumorosa, sobre uma campa
realiza o sonho que o menino que foi
(em volta do qual se apertam suas raízes quentes)
perdeu em tristezas e canções.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Rainer Maria Rilke
No sul - Friedrich Nietzsche
Eis-me suspenso a um galho tortoE balançando aqui meu cansaço.
Sou convidado de um passarinho
E aqui repouso, onde está seu ninho.
Mas onde estou? Ai, longe, no espaço.
O mar, tão branco, dormindo absorto,
E ali, purpúrea, vai uma vela.
Penhascos, idílios, torres e cais,
Balir de ovelhas e figueirais.
Sul da inocência, me acolhe nela!
Só a passo e passo - é como estar morto,
O pé ante pé faz o alemão pesar.
Mandei o vento levar-me ao alto,
Aprendi com pássaros leveza e salto -
Ao sul voei, por sobre o mar.
[...]
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Nietzsche
Cantilena Para Um Tocador de Flauta Cego - Marguerite Yourcenar
Flauta da noite que se cerra,Presença líquida de um pranto,
Todos os silêncios da terra
São as pérolas do teu canto.
Espalha teu pólen na alfombra
Do catre que por fim te açoite
Mel de uma boca de sombra
Como um beijo na boca da noite
E pois que as escalas que cansas
Nos dizem que o dia acabou,
Faz-nos crer que os céus dançam
Porque um cego cantou.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Marguerite Yourcenar
Moinho - Cassiano Ricardo
A esperança móiA esperança dói.
A esperança mói,
a esperança
dói porque mói;
A esperança mói;
a esperança
dói porque dói.
A esperança mói
mói mói
dói.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cassiano Ricardo
Coisa miserável - Carlos Drummond de Andrade

Coisa miserável,
suspiro de angústia
enchendo o espaço,
vontade de chorar,
coisa miserável,
miserável.
Senhor, piedade de mim,
olhos misericordiosos
pousando nos meus,
braços divinos
cingindo meu peito,
coisa miserável
no pó sem consolo
consolai-me.
Mas de nada vale
gemer ou chorar,
de nada vale
erguer mãos e olhos
para um céu tão longe,
para um deus tão longe
ou, quem sabe? para um céu vazio.
É melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
e ficar fechado
entre duas paredes,
sem a mais leve cólera
ou humilhação.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Carlos Drummond de Andrade
Haiti - Nádia Dantas

O tremor. A poeira. Os escombros.
O gemido. O grito. A escuridão.
A ruína. O espanto. A desolação
O desamparo. A insegurança. A dor.
A fragilidade. A agonia. A morte.
A noite...
O silêncio...
A morte...
O silêncio.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Nádia Dantas
Colhe o dia, porque és ele - Ricardo Reis/ Fernando Pessoa
Uns, com os olhos postos no passado, Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Fernando Pessoa
O cavalo do mar - Lúcio Cardoso
Cavalga, cavalo,o verde grande do mar.
Que seja roxa a espuma,
que seja pardo o luar
cavalga
cavalo
o verde tenso do mar.
É doido, escuro,
este pasto que luz
ao duro
sol do luar
- cavalga, cavalo,
cavalga infante e vassalo,
monstro azul
semilunar.
Alimária do existido,
em verde folha
parido -
reluz, ao teu cavalgar -
cavalo pardo e parado
animal imaginado
- o mar.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Lúcio Cardoso
Minha terra - Caio Porfírio Carneiro
Minha terra querida com laço de fita
eu rimaria sem pressa.
A minha terra é áspera
é tempo que se prolonga
desde avoengos tropéis
que o sopro do vento não mata
em espaço tão corrido
ao embalo desta rede.
Meu pé borrando a parede
e o ranger dos armadores
pra cá pra lá
pra lá pra cá
marca o tempo presente
tic-tac ao correr do tempo
que firma o mourão na terra
e com ela perpetua
currais porteiras campos
espelhos de águas tranqüilas
paredes buscando os céus
pé direito oito metros
janelas portas rangentes
alpendre aberto aos caminhos
retratos que fitam austeros
esperam muito de mim
e me eternizam aqui
na argila deste chão.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Caio Porfírio Carneiro
HAIKAI - Claudio Daniel

esse canto
é azul, azul, azul
quase branco
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
HAIKAI
Assinar:
Comentários (Atom)



