Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
HAIKAI - Nádia Dantas
Cintila ao sol
no colorido da flor
o pingo da chuva
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Nádia Dantas
Pomar - Henriqueta Lisboa
Menino - madruga
o pomar não foge!
(pitangas maduras
dão água na boca.)
Menino descalço
não olha onde pisa.
Trepa pelas árvores
agarrando pêssegos.
(Pêssegos macios
como paina e flor.
Dentadas de gosto!)
Menino, cuidado,
jabuticabeiras
novinhas em folha
não aguentam peso.
Rebrilham cem olhos
agrupados, negros.
E as frutas estalam
- espuma de vidro -
nos lábios de rosa.
Menino guloso!
Menino guloso,
ontem vi um figo
mesmo que um veludo,
redondo, polpudo,
e disse: este é meu!
Meu figo onde está?
-Passarinho comeu,
passarinho comeu...
o pomar não foge!
(pitangas maduras
dão água na boca.)
Menino descalço
não olha onde pisa.
Trepa pelas árvores
agarrando pêssegos.
(Pêssegos macios
como paina e flor.
Dentadas de gosto!)
Menino, cuidado,
jabuticabeiras
novinhas em folha
não aguentam peso.
Rebrilham cem olhos
agrupados, negros.
E as frutas estalam
- espuma de vidro -
nos lábios de rosa.
Menino guloso!
Menino guloso,
ontem vi um figo
mesmo que um veludo,
redondo, polpudo,
e disse: este é meu!
Meu figo onde está?
-Passarinho comeu,
passarinho comeu...
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No banco de jardim - Carlos Drummond de Andrade
No banco de jardim
o tempo se desfaz
e resta entre ruídos
a corola de paz.
No banco do jardim.
a sombra se adelgaça
e entre besouro e concha
de segredo, o anjo passa.
No banco de jardim,
o cosmo se resume
em serena parábola,
impressentido lume.
o tempo se desfaz
e resta entre ruídos
a corola de paz.
No banco do jardim.
a sombra se adelgaça
e entre besouro e concha
de segredo, o anjo passa.
No banco de jardim,
o cosmo se resume
em serena parábola,
impressentido lume.
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Beija-flor - Márcia Fasciotti
Flor...
Flor que beija
Flor que deseja
O beijo do beija-flor
Que não a beija...
Ele voa
Desaparece, reaparece
E pousa em outra flor
Saudade - dor!!
Esperança perdida nos jardins,
Cravos, rosas
Margaridas e jasmins.
Voe e pouse em outra flor.
Sinta o perfume dela.
Leve seu pólen prá florir outra janela.
Traia todas as flores,
Com beijos de todas as cores...
Mas cumpra com seu dever...
Resgate o que cativou.
Faça renascer,
Desejo - beijo - flor,
Eu, você e o amor...
Beija!!! Flor...
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Marcia Fasciotti
Asa no espaço - Fernanda de Castro
Asa no espaço, vai, pensamento!
Na noite azul, minha alma flutua!
Quero voar nos braços do vento,
Quero vogar nos braços da Lua!
Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta...
Por oceanos de nevoeiro
corre o impossível, de ponta a ponta.
Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.
Castelos fluídos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
... Asa, mais alto, mais alto, mais!
Na noite azul, minha alma flutua!
Quero voar nos braços do vento,
Quero vogar nos braços da Lua!
Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta...
Por oceanos de nevoeiro
corre o impossível, de ponta a ponta.
Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.
Castelos fluídos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
... Asa, mais alto, mais alto, mais!
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Fernanda de Castro
O Tempo no Jardim - Cecília Meireles
Nestes jardins - há vinte anos - andaram os nossos
[muitos passos,
e aqueles que então éramos se contemplaram nesses lagos.
Se algum de nós avistasse o que seríamos com o tempo,
todos nós choraríamos, de mútua pena e susto imenso.
E assim nos separamos, suspirando dias futuros,
e nenhum se atrevia a desvelar seus próprios mundos.
E agora que separados vivemos o que foi vivido,
com doce amor choramos quem fomos nesse tempo antigo.
[muitos passos,
e aqueles que então éramos se contemplaram nesses lagos.
Se algum de nós avistasse o que seríamos com o tempo,
todos nós choraríamos, de mútua pena e susto imenso.
E assim nos separamos, suspirando dias futuros,
e nenhum se atrevia a desvelar seus próprios mundos.
E agora que separados vivemos o que foi vivido,
com doce amor choramos quem fomos nesse tempo antigo.
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A Filha da Antiga Lei - Adélia Prado
Deus não me dá sossego.
É meu aguilhão.
Morde meu calcanhar como serpente,
faz-se verbo, carne, caco de vidro,
pedra contra a qual sangra a minha cabeça.
Eu não tenho descanso neste amor.
Eu não posso dormir sob a luz do Seu olho que me fixa.
Quero de novo o ventre de minha mãe,
sua mão espalmada contra o umbigo estufado, me escondendo de Deus.
É meu aguilhão.
Morde meu calcanhar como serpente,
faz-se verbo, carne, caco de vidro,
pedra contra a qual sangra a minha cabeça.
Eu não tenho descanso neste amor.
Eu não posso dormir sob a luz do Seu olho que me fixa.
Quero de novo o ventre de minha mãe,
sua mão espalmada contra o umbigo estufado, me escondendo de Deus.
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Adélia Prado
Irene no céu - Manuel Bandeira
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Com licença, meu branco.
E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Com licença, meu branco.
E São Pedro, bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
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Sugestão - Cecília Meireles
Sede assim – qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre,
sem pergunta.
Onde que se esforça,
por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.
Também com este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.
sede assim qualquer coisa
Serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre,
sem pergunta.
Onde que se esforça,
por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.
Também com este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.
sede assim qualquer coisa
Serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
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Cecília Meireles
Vem vento, varre! Adolfo Casais Monteiro
Vem vento, varre
sonhos e mortos.
Vem vento, varre
medos e culpas.
Quer seja dia,
quer faça treva,
varre sem pena,
leva adiante
paz e sossego,
leva contigo
noturnas preces,
presságios fúnebres,
pávidos rostos
só cobardia.
Que fique apenas
erecto e duro
o tronco estreme
de raiz funda.
Leva a doçura,
se for preciso:
ao canto fundo
basta o que basta.
Vem vento, varre!
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Adolfo Casais Monteiro
Boiam leves, desatentos - Fernando Pessoa
Boiam leves, desatentos
Meus pensamentos de mágoa,
como no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.
Boiam como folhas mortas,
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.
Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.
Meus pensamentos de mágoa,
como no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.
Boiam como folhas mortas,
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.
Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.
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O numerado - César de Araújo
Sei que sou um número.
Que número sou, não sei.
Sei que sou um elo ao infinito
ou de retorno ao princípio.
Se tudo for redondo, volto.
Se tudo plano, vou.
De qualquer modo, sou.
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