(Para Mário Quintana)
Agora que pertence à Grande Constelação,
do outro lado da vida,
ele ri
da estrela terrena que era.
Tudo quanto penso - Fernando Pessoa
Tudo quanto penso,
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.
[...]
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou.
Extensão parada
Sem nada a estar ali,
Areia peneirada
Vou dar-lhe a ferroada
Da vida que vivi.
[...]
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Fernando Pessoa
O maior trem do mundo - Carlos Drummond de Andrade
O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.
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Carlos Drummond de Andrade
Epigrama nº 5 - Cecília Meireles
Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.
Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste, no isolamento.
Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar - límpido e exato.
E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do ato.
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Cecília Meireles
CANTO XII - O infinito - Giacomo Leopardi
Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração. E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído. Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração. E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído. Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.
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Lago misterioso - Rubem Alves
A poesia é um mergulho no lago misterioso,
um atravessar do espelho, para longe do engano
da superfície dos reflexos,
para dentro das funduras
onde as palavras nascem e vivem...
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HAIKAI - Guilherme de Almeida
A noite chorou
a bolha em que, sobre a folha,
o sol despertou.
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Se às vezes digo que as flores sorriem - Alberto Caeiro (F.Pessoa)
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
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A nossa canção de roda - Mário Quintana
A nossa canção de roda
tinha nada e tinha tudo
como a voz dos passarinhos.
- mas que será que dizia?
A nossa canção de roda
era boba como a lua.
Mas a roda dispersou-se
cada qual perdeu seu par...
Agora,
nossos fantasmas meninos
talvez a cantem na lua...
talvez que junto a algum leito
a morte a esteja a cantar
como quem nana um filhinho...
A nossa canção de roda
tinha nada e tinha tudo:
era
uma girândola de vozes
chispando
mais lindas do que as estrelas
era uma fogueira acesa
para enganar o medo, o grande medo
que a Noite sentia
da sua própria escuridão.
tinha nada e tinha tudo
como a voz dos passarinhos.
- mas que será que dizia?
A nossa canção de roda
era boba como a lua.
Mas a roda dispersou-se
cada qual perdeu seu par...
Agora,
nossos fantasmas meninos
talvez a cantem na lua...
talvez que junto a algum leito
a morte a esteja a cantar
como quem nana um filhinho...
A nossa canção de roda
tinha nada e tinha tudo:
era
uma girândola de vozes
chispando
mais lindas do que as estrelas
era uma fogueira acesa
para enganar o medo, o grande medo
que a Noite sentia
da sua própria escuridão.
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N. D. A. - ARNALDO ANTUNES
nenhuma das alternativas
me atrai-
nem a lua que brilha
nem a folha que cai
nem a fome da filha
nem o nome do pai
nenhuma das alternativas
me dá medo-
nem olhar a mulher
nem saber o segredo
nem a bruxa de Blair
nem o bispo Macedo
nenhuma das alternativas
me seduz-
nem a voz do deserto
nem a mão que conduz
nem o sonho desperto
nem o lustro da luz
nenhuma das alternativas
me convence-
nem a bola que rola
nem o time que vence
nem a chuva que chora
nem a água que benze
nenhuma das alternativas
me desperta-
nem a borda que alarga
nem a corda que aperta
nem a boca que amarga
ou o açucar que empedra
nenhuma das alternativas
me alivia-
nem a lâmpada acesa
nem o sol da Bahia
nem o dom da beleza
nem a anestesia
nenhuma das alternativas
me liberta-
nem a cama desfeita
nem a página aberta
nem o peito que aceita
o que a cuca deserta
nenhuma das alternativas
jaz
em meu peito-
nem o gordo salário
nem o alto conceito
nem o traço precário
nem o plano perfeito
nem a pústula
nem a pétala
nem a ruga
nem a rédea
nem a curva
nem a reta
nem a dúvida
ou a vida
só
a que nega
o resto
ao redor
resta
e cega
me leva
pelo cor
redor
à porta
(certa, in
certa, não
importa)
da saída
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HAIKAI - Matsuo Bashô
Ao sol da manhã
uma gota de orvalho
precioso diamante.
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Gorjeios - Manoel de Barros
Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se
inclui a sedução.
É quando a pássara está namorada que ela gorjeia.
Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.
Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.
É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.
É por isso que as árvores deliram.
Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.
E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.
As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.
inclui a sedução.
É quando a pássara está namorada que ela gorjeia.
Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.
Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.
É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.
É por isso que as árvores deliram.
Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.
E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.
As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.
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