Eu carrego seu coração comigo
(Eu o carrego no meu coração)
Eu nunca estou sem ele
(onde quer que eu vá, você vai;
e o que quer que eu faça, eu faço por você)
Eu não temo o destino (porque você é o meu destino)
Eu não quero o mundo por mais belo que seja
Porque você é meu mundo, minha verdade
e você é o que a lua sempre significou
o que o sol sempre cantou
Aqui está o segredo mais profundo que ninguém sabe
(aqui está a raiz da raiz, o broto do broto
e o céu do céu de uma árvore chamada vida;
que cresce mais alta do que a alma pode esperar
ou a mente pode esconder).
Este é o milagre que distancia as estrelas
Eu carrego seu coração
(carrego no meu coração)
Pneumotórax - Manuel Bandeira
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três ... trinta e três ... trinta e três...
- Respire.
(...)
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
[e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar
[o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar
[um tango argentino.
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Manuel Bandeira
Dormir um pouco... Albano Martins
Homenagem a Federico García Lorca
Dormir um pouco — um minuto,
um século. Acordar
na crista
duma onda, ser
o lastro de espuma
que há no sono
das algas. Ou
ser apenas
a maré, que sempre
volta
para dizer: eu não morri, eu sou
a borboleta
do vento, a flor
incandescente destas águas.
Dormir um pouco — um minuto,
um século. Acordar
na crista
duma onda, ser
o lastro de espuma
que há no sono
das algas. Ou
ser apenas
a maré, que sempre
volta
para dizer: eu não morri, eu sou
a borboleta
do vento, a flor
incandescente destas águas.
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Albano Martins
Nádia Dantas
Na folha que cai
a fugacidade da vida.
Era uma vez...
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Flores - Sophia de Mello B. Andresen
Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
De uma manhã futura.
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Sophia de Mello B. Andresen
Cecília Meireles
Única sobrevivente
de uma casa desabada
- só eu me achava acordada.
E recordo a minha gente,
na noite sem madrugada.
Só eu me achava acordada.
Minha morte é diferente:
eles não souberam nada.
Só eu me achava acordada.
Mas quem sabe o que se sente,
entre ir na casa afundada
e ter ficado – acordada!?
de uma casa desabada
- só eu me achava acordada.
E recordo a minha gente,
na noite sem madrugada.
Só eu me achava acordada.
Minha morte é diferente:
eles não souberam nada.
Só eu me achava acordada.
Mas quem sabe o que se sente,
entre ir na casa afundada
e ter ficado – acordada!?
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Indagações - Fernando Py
De argila e de sangue
somos feitos. Não mais
que a imponderável ânsia
de ascender ao divino
transportando conosco
este fardo humano
de organismo imperfeito.
De suor e de lágrimas
nos tornamos. Quanto
esperamos saber
em nossa ignorância
no intuito de voar
à excelsa plenitude
do espírito supremo?
Quem nos formou? Quem
imaginou e fez
energia e matéria,
todo o Universo
que vemos e sabemos
e os demais mundos todos
que jamais saberemos?
Deixamos o que sabemos
— e o mais que desconhecemos —
aos que depois a terra
habitarem: esses homens
futuros que ignoramos
e mal podemos pressentir
pelo que hoje apresentamos.
Aonde vamos? Aonde
repousará nossa alma
a contínua indagação
que nos eleva além
de simples animais?
Em que páramos finais
existe nossa redenção?
somos feitos. Não mais
que a imponderável ânsia
de ascender ao divino
transportando conosco
este fardo humano
de organismo imperfeito.
De suor e de lágrimas
nos tornamos. Quanto
esperamos saber
em nossa ignorância
no intuito de voar
à excelsa plenitude
do espírito supremo?
Quem nos formou? Quem
imaginou e fez
energia e matéria,
todo o Universo
que vemos e sabemos
e os demais mundos todos
que jamais saberemos?
Deixamos o que sabemos
— e o mais que desconhecemos —
aos que depois a terra
habitarem: esses homens
futuros que ignoramos
e mal podemos pressentir
pelo que hoje apresentamos.
Aonde vamos? Aonde
repousará nossa alma
a contínua indagação
que nos eleva além
de simples animais?
Em que páramos finais
existe nossa redenção?
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A costureira - Alcides Villaça
Que me quer a memória, a costureira?
Vale-se de meus dedos para sonhar,
e quando acordo mal me vejo.
Que me quer com retalhos
de um manto que nunca usei?
Vale-se de meu sonho para o trajar.
Quem pula em meu quintal às horas mortas
e me põe trêmula ogiva sob a pálpebra,
coração de um azul que não pedi?
Quem se finge morrer, para cerzir
na sombra a própria sombra - e some
à prima luz?
Quem costura alta noite, quem pedala
as correias à ré, e me abandona
às figuras de gelo?
A costureira com seus figurinos
volta páginas e páginas, num contínuo
desfile de moldes agulhados.
Que me quer a mulher? Gargareje
seus préstimos, quando queira,
só não me assalte o escasso tempo
que me costuro eu mesmo enquanto esqueço
o som da máquina extinta, e me recreio
com o corpo que tenho e o sopro ausente.
Vale-se de meus dedos para sonhar,
e quando acordo mal me vejo.
Que me quer com retalhos
de um manto que nunca usei?
Vale-se de meu sonho para o trajar.
Quem pula em meu quintal às horas mortas
e me põe trêmula ogiva sob a pálpebra,
coração de um azul que não pedi?
Quem se finge morrer, para cerzir
na sombra a própria sombra - e some
à prima luz?
Quem costura alta noite, quem pedala
as correias à ré, e me abandona
às figuras de gelo?
A costureira com seus figurinos
volta páginas e páginas, num contínuo
desfile de moldes agulhados.
Que me quer a mulher? Gargareje
seus préstimos, quando queira,
só não me assalte o escasso tempo
que me costuro eu mesmo enquanto esqueço
o som da máquina extinta, e me recreio
com o corpo que tenho e o sopro ausente.
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Soneto à lua - Vinícius de Moraes
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?
Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?
Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:
E és tampouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
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Vinícius de Moraes
Contemplação - Cecília Meireles
Não acuso. Nem perdoo.
Nada sei. De nada.
Contemplo.
Quando os homens apareceram
eu não estava presente.
Eu não estava presente,
quando a terra se desprendeu do sol.
Eu não estava presente,
quando o sol apareceu no céu.
E antes de haver o céu,
Eu não estava presente.
Como hei de acusar ou perdoar?
Nada sei.
Contemplo.
Parece que às vezes me falam.
Mas também não tenho certeza.
Quem me deseja ouvir, nestas paragens
onde somos todos estrangeiros?
Também não sei com segurança, muitas vezes,
da oferta que vai comigo, e em que resulta,
pois o mundo é mágico!
Tocou-se o Lírio e apareceu um Cavalo Selvagem.
E um anel no dedo pode fazer desabar da lua um temporal.
Já vês que me enterneço e me assusto,
entre as secretas maravilhas.
E não posso medir todos os ângulos do meu gesto.
Noites e noites, estudei devotamente
nossos mitos, e sua geometria.
Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,
eu era amor. Só isso encontro.
Caminho, navego, voo,
- sempre amor.
Rio desviado, seta exilada, onda soprada ao contrário,
- mas sempre o mesmo resultado: direção e êxtase.
À beira dos teus olhos,
por acaso detendo-me,
que acontecimentos serão produzidos
em mim e em ti?
Não há resposta.
Sabem-se os nascimentos
quando já foram sofridos.
Tão pouco somos, - e tanto causamos,
com tão longos ecos!
Nossas viagens têm cargas ocultas,
de desconhecidos vínculos.
Entre o desejo do itinerário, uma lei que nos leva
age invisível e abriga
mais que o itinerário e o desejo.
Que te direi, se me interrogas?
As nuvens falam?
Não. As nuvens tocam-se, passam, desmancham-se.
Às vezes, pensa-se que demoram, parece que estão paradas...
Confundiram-se.
E até se julga que dentro delas andam estrelas e planetas.
Oh, aparência...Pode talvez andar um tonto pássaro perdido.
Voz sem pouso, no tempo surdo.
Não acuso nem perdôo.
Que faremos, errantes entre as invenções dos deuses?
Eu não estava presente, quando formaram
a voz tão frágil dos pássaros.
Quando as nuvens começaram a existir,
qual de nós estava presente?
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Paisagem - Murilo Mendes
Do sino vazio
Voam esquadrilhas de pássaros.
No oco da lâmpada
Irrompe a floresta
(Ninguém para me asfixiar).
O quarto caminha
Até o fundo do horizonte.
O espelho se contrai,
Vãos ornamentos,
Pernas tronco soluços.
Voam esquadrilhas de pássaros.
No oco da lâmpada
Irrompe a floresta
(Ninguém para me asfixiar).
O quarto caminha
Até o fundo do horizonte.
O espelho se contrai,
Vãos ornamentos,
Pernas tronco soluços.
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Murilo Mendes
As velhas árvores - Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas...
Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas...
Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
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Árvore, cujo pomo, belo e brando - Luís Vaz de Camões
Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruito debuxando.
Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.
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Repousa sobre o trigo - Fernando Pessoa
Repousa sobre o trigo
Que ondula um sol parado.
Não me entendo comigo.
Ando sempre enganado.
Tivesse eu conseguido
Nunca saber de mim,
Ter-me-ia esquecido
De ser esquecido assim.
O trigo mexe leve
Ao sol alheio e igual.
Como a alma aqui é breve
Com o seu bem e mal!
Que ondula um sol parado.
Não me entendo comigo.
Ando sempre enganado.
Tivesse eu conseguido
Nunca saber de mim,
Ter-me-ia esquecido
De ser esquecido assim.
O trigo mexe leve
Ao sol alheio e igual.
Como a alma aqui é breve
Com o seu bem e mal!
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