Rodas - Vera Lúcia de Oliveira

minha infãncia era cheia de trens
também minha adolescência se encheu
de rodas
de manhã acordo
aprendo:
a vida está
é
paralisia é o nome mais doloroso que tem a morte
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Vera Lúcia de Oliveira
Poema que aconteceu - Carlos Drummond de Andrade
Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema
não sabe que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema
não sabe que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.
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Carlos Drummond de Andrade
Yeda Prates Bernis
Noite no jasmineiro.
Sobre o muro,
estrelas perfumadas.
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Yeda Prates Bernis
Poemeto rural - Abgar Renault
Amplo dia ardente de sertão.
Sol queimante de verão
fuzilando auriluzente,
em setas nos olhos da gente.
Toadas longínquas de trabalhadores no eito.
Gado engordando lentamente no pastinho estreito.
Gente engordando sonolentamente dentro de casa.
Sombras chatas de árvores estendidas no chão... Um ruflo célere de asa
riscando, às vezes, o ar parado. Silêncio longo. Soledade.
Monotonia do sertão... Monotonia da felicidade...
Sol queimante de verão
fuzilando auriluzente,
em setas nos olhos da gente.
Toadas longínquas de trabalhadores no eito.
Gado engordando lentamente no pastinho estreito.
Gente engordando sonolentamente dentro de casa.
Sombras chatas de árvores estendidas no chão... Um ruflo célere de asa
riscando, às vezes, o ar parado. Silêncio longo. Soledade.
Monotonia do sertão... Monotonia da felicidade...
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Urhacy Faustino
Venha colibri:
dentro do meu coração
já é primavera.
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Sabiá II - Cecília Meireles
Vi descer a tempestade,
Sabiá,
sobre nuvens tenebrosas.
Os homens, soltos, corriam,
Sabiá...
(De onde lhes vem tal pavor?)
- Presas morriam as rosas,
em seu destino de flor.
Nessa densa tarde escura,
Sabiá,
entre as batalhas do vento,
escutei pela montanha
tua voz tranquila e pura,
Sabiá,
- perfeita imagem do amor
em cristal de pensamento:
grande, claro e sofredor.
Debrucei-me no ar selvagem,
Sabiá,
para ouvi-la, tão serena,
sem medo do fim do mundo,
proclamar sua mensagem,
Sabiá.
Levarei para onde for
dois perfis da mesma pena:
meu silêncio, teu clamor.
Sabiá,
sobre nuvens tenebrosas.
Os homens, soltos, corriam,
Sabiá...
(De onde lhes vem tal pavor?)
- Presas morriam as rosas,
em seu destino de flor.
Nessa densa tarde escura,
Sabiá,
entre as batalhas do vento,
escutei pela montanha
tua voz tranquila e pura,
Sabiá,
- perfeita imagem do amor
em cristal de pensamento:
grande, claro e sofredor.
Debrucei-me no ar selvagem,
Sabiá,
para ouvi-la, tão serena,
sem medo do fim do mundo,
proclamar sua mensagem,
Sabiá.
Levarei para onde for
dois perfis da mesma pena:
meu silêncio, teu clamor.
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Cecília Meireles
Áries - Thiago de Mello

Eu sei que Marte te ajuda, companheiro.
Conheço bem de perto esse poder apaixonado,
a generosa força do teu signo de fogo.
Mas não confies demasiado. Cuidado contigo,
vejo um cansaço ao oeste do teu olho.
É preciso ter paciência com as vaidades verdes.
Escuta a canção do vento que inventa
o redemoinho nas palavras,
e quando o sol estiver a pino
evita as próprias palavras:
um autêntico Áries deve preferir não dizer
quando o dizer é confundir.
O sectarismo está cravando no teu sonho
os seus dentes de nácar,
e nem te dás conta.
Ademais, não são de nácar.
Não desanimes nunca, segue trabalhando
pelo reinado da claridão,
que, como sabes, ou precisas saber,
tem o gosto da vida
e a cor do sangue antes do amanhecer.
Tua luta te reserva grandes alegrias,
tanto mais belas porque repartidas,
e no começo do verão
resolverás definitivamente
teu grande problema secreto:
mas só se tiveres força
de olhar o sol de frente.
Pelo outono,
ligeiras perturbações cardiovasculares,
proporcionais ao medo
que circula em tuas artérias.
Os mais jovens,
ou os que ainda não perderam a juventude,
devem adiar sua noite de bodas
por umas poucas luas
e ganhar bem esse tempo
para aprender devagarinho
que o compartir não dói e te acrescenta
de uma força maior que a das estrelas.
Os Áries que já se casaram,
que tratem de levar o barco
por águas mansas,
sem fazer mal a ninguém.
Haverá um instante na primavera
no qual os varões de Marte
que ainda resguardam a infância
(cuidado que ela está agonizante no peito!)
estarão extremamente sensíveis
à beleza das mulheres em geral.
Nem todos sucumbirão.
No meio do último decanato,
chegará um sol cinzento com grandes ameaças
à pobre face deste lindo mundo nosso.
Mas não te alteres:
continua fazendo a tua parte,
humilde e organizado,
na construção da alegria.
As mulheres morenas
devem acalmar o gênio,
e preferir
sobriamente
o sortilégio do quartzo rosado.
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O martelo - Manuel Bandeira

As rodas rangem na curva dos trilhos
Inexoravelmente.
Mas eu salvei do meu naufrágio
Os elementos mais cotidianos.
O meu quarto resume o passado em todas as casas que habitei.
Dentro da noite
No cerne duro da cidade
Me sinto protegido.
Do jardim do convento
Vem o pio da coruja.
Doce como um arrulho de pomba.
Sei que amanhã quando acordar
Ouvirei o martelo do ferreiro
Bater corajoso o seu cântico de certezas.
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Manuel Bandeira
Não me prendo a nada que me defina – Clarice Lispector

Não me prendo a nada que me defina.
Sou companhia, mas posso ser solidão.
Tranquilidade e inconstância.
Pedra e coração.
Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor,
sarcasmo, preguiça e sono!
Música alta e silêncio.
Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser.
Não me limito, não sou cruel comigo!
Serei sempre apego pelo que vale a pena
e desapego pelo que não quer valer…
Suponho que me entender
não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
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Esses inquietos ventos - Mário Quintana

Esses inquietos ventos andarilhos
Passam e dizem: "Vamos caminhar,
Nós conhecemos misteriosos trilhos,
Bosques antigos onde é bom sonhar...
E há tantas virgens a sonhar idílios!
E tu não vieste, sob a paz lunar,
Beijar os seus entrefechados cílios
E as dolorosas bocas a ofegar..."
Os ventos vêm e batem-me à janela:
"A tua vida, que fizeste dela?"
E chega a morte: "Anda! Vem dormir..."
Faz tanto frio... E é tão macia a cama:
Mas toda a longa noite inda hei de ouvir
A inquieta voz do vento que me chama.
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Mário Quintana
O voo - H. Dobal

Dói o domingo
no ninho dos tédios.
Dói o verão:
esta pele seca
estirada
sobre os ministérios vazios.
Dói o clube
dos domingos.
Dói o rito
dos domingos:
o amargo esporte
de viver.
O amargo esporte
de esquecer.
Dói a divisão da vida:
o pão subtraído,
o peixe poluído,
a paz envenenada.
Dói o voo cortante desta tarde.
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H. Dobal
Considerações sobre o tempo - Fernando Py

Existe o tempo em nós
ou nós é que o marcamos
para captar-lhe a foz
insensível às horas
e ao vento que nos ramos
se espalha e do invisível
extrai sua ração
de fome, de acendalha,
enquanto o corpo vai
durando e se acabando
e a morte em nós ou fora
agindo como câncer
desfaz toda a certeza
de amor e na falaz
carícia do momento
ao sol, à ventania,
deságua como chuva
nessa angústia sem termo
da lassidão do tempo
sem dono e sem crepúsculo,
sem regra, imagem, música.
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Fernando Py
Olheiros - Carlos Drummond de Andrade
Pipa empinada ao sol da tarde,
sinal que polícia vem subindo.
Sem pipa, sem vento,
sem tempo de empinar,
assovio fino vara o morro,
torna o corpo invisível, imbatível.
sinal que polícia vem subindo.
Sem pipa, sem vento,
sem tempo de empinar,
assovio fino vara o morro,
torna o corpo invisível, imbatível.
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Mensagem a um desconhecido - Cecília Meireles

Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim, e me entendeste profundamente.
Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado.
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O poeta - Rainer Maria Rilke
Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
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