Ele é o mundo extremo de beleza e de todas as ideias passadas e futuras
É a sabedoria de todas as coisas na sua essência de música e de poesia
É a vida em desencantamento de todas as imagens do tempo na carne
Ele diz à mata tumefacta: Eu sou tu mesmo, larva do amor infinito
E se morrer é para que eu viva a tua morte e a minha vida!
E com mãos de piedade tece teias gigantescas sobre os cosmos debruçados
Onde tombam palpitantes corações cheios de sofrimento e de angústia.
Ele possui - possui como nunca possuiu o espírito no sangue dos homens
Sabe - sabe como nunca soube a alma no seio da tragédia
E perdura - como nunca perdurou a morte no fundo do ser inocente
Ele diz à noite: Tu existes, mas que seria de ti se eu não te visse
Que realidade és senão a claridade dos meus olhos que tudo criam?
E a noite que não o vê desce os mais escuros véus sobre o cadáver dos rios
Com negras lágrimas ardentes de impotência e miséria.
Quando o peregrino encontra na noite negra a branca imagem do seu êxtase
Misteriosamente à sua volta a natureza se putrefaz
Seus olhos que penetravam mornos os cânticos estelares de Aldebarã
Veem descer em fios de luz planetas como aranhas rígidas
Que pousam sobre a epiderme corrompida das matas e das águas
E na vida que começa em origem e entendimento no seu íntimo
A paisagem da morte dolorosa.
E sobre cada extensão de folhas e de frutos
Os sonhos fogem como crisálidas translúcidas para os espaços frios da alma
E se respondem em ecos de lembrança e de intuições serenas
E como a águia, o peregrino-deus devora as entranhas da terra
E com ela alimenta as iluminações de um céu não mais inexistente
E com ela fecunda as fruições de uma seiva decomposta em lava
Que se arrasta para as escarpas mortuárias de cruéis abismos vividos.