Nossos filhos viajam pelos
caminhos da vida,
pelas águas salgadas de muito
longe,
pelas florestas que escondem
os dias,
pelo céu, pelas cidades, por
dentro do mundo escuro
de seus próprios silêncios.
Nossos filhos não mandam
mensagens de onde se encontram.
Este vento que passa pode
dar-lhes a morte.
A vaga pode levá-los para o
reino do oceano.
Podem estar caindo em
pedaços, como estrelas.
Podem estar sendo
despedaçados em amor e lágrima.
Nossos filhos têm outro
idioma, outros olhos, outra alma.
Não sabem ainda os caminhos
de voltar, somente os de ir.
Eles vão para seus
horizontes, sem memória ou saudade,
não querem prisão, atraso,
adeuses:
deixam-se apenas gostar,
apressados e inquietos.
Nossos filhos passaram por
nós, mas não são nossos,
querem ir sozinhos, e não
sabemos por onde andam.
Não sabemos quando morrem,
quando riem,
são pássaros sem residência
nem família
à superfície da vida.
Nós estamos aqui, nesta
vigília inexplicável,
esperando o que não vem, o
rosto que já não conhecemos.
Nossos filhos estão onde não
vemos nem sabemos.
Nós somos as doloridas do mal
que talvez não sofram,
mas suas alegrias não chegam
nunca à solidão de que vivemos,
seu único presente, abundante
e sem fim.