Vagarosos dias
passam. Que distantes ficam
as coisas passadas!
Lendas das pedras verdes - Henriqueta Lisboa
– Fernão Dias, Fernão Dias,
deixa a Uiara dormir!
Tem um sabor secular
ressoando dentro da noite,
a voz monótona do índio.
A Serra Resplandecente
fulge ao luar junto à lagoa.
Pela escada de Jacó
sobem e descem estrelas.
– Ai, Serra Resplandecente,
Lagoa Vupabuçu!
Tantos anos de procura
como é que os hei de perder!
– Fernão Dias, Fernão Dias,
deixa a Uiara dormir!
A vida da tribo está
no grande sono da Uiara.
O grande sono da Uiara
reside nos seus cabelos.
Seus cabelos eram de água,
tornaram-se em pedras verdes.
Voz de raça moribunda
Fernão Dias não escuta.
– Sete anos há que deixei
minha terra e meu sossego
em troca de uma esperança
que é meu respiro e bordão.
Da Serra da Mantiqueira
até o Rio Uaimi,
quantos montes, quantos vales
para descer e subir,
que de sombras e emboscadas
antes do raiar do dia!
Vem de mais longe, profunda,
a voz do índio recordando:
– Nas noites de lua cheia
quando a Uiara cantava
branca e linda, emoldurada
pelas ondas dos cabelos,
mais de um valente guerreiro
por ela se suicidava.
Foi então que Macachera
com prudência soube agir,
mandando Uiara dormisse
velada por sentinelas
um sono igual ao da pedra.
– Vós que velais o seu sono,
desembaraçai as armas!
Ah! esse canto escondido,
essa beleza roubada,
esses cabelos que brilham
com viva luz de esmeraldas!
Ser guerreiro, ser valente,
depois dormir para sempre
nos verdes braços da Uiara!
– Fernão Dias, Fernão Dias!
deixa a Uiara dormir!
deixa a Uiara dormir!
Tem um sabor secular
ressoando dentro da noite,
a voz monótona do índio.
A Serra Resplandecente
fulge ao luar junto à lagoa.
Pela escada de Jacó
sobem e descem estrelas.
– Ai, Serra Resplandecente,
Lagoa Vupabuçu!
Tantos anos de procura
como é que os hei de perder!
– Fernão Dias, Fernão Dias,
deixa a Uiara dormir!
A vida da tribo está
no grande sono da Uiara.
O grande sono da Uiara
reside nos seus cabelos.
Seus cabelos eram de água,
tornaram-se em pedras verdes.
Voz de raça moribunda
Fernão Dias não escuta.
– Sete anos há que deixei
minha terra e meu sossego
em troca de uma esperança
que é meu respiro e bordão.
Da Serra da Mantiqueira
até o Rio Uaimi,
quantos montes, quantos vales
para descer e subir,
que de sombras e emboscadas
antes do raiar do dia!
Vem de mais longe, profunda,
a voz do índio recordando:
– Nas noites de lua cheia
quando a Uiara cantava
branca e linda, emoldurada
pelas ondas dos cabelos,
mais de um valente guerreiro
por ela se suicidava.
Foi então que Macachera
com prudência soube agir,
mandando Uiara dormisse
velada por sentinelas
um sono igual ao da pedra.
– Vós que velais o seu sono,
desembaraçai as armas!
Ah! esse canto escondido,
essa beleza roubada,
esses cabelos que brilham
com viva luz de esmeraldas!
Ser guerreiro, ser valente,
depois dormir para sempre
nos verdes braços da Uiara!
– Fernão Dias, Fernão Dias!
deixa a Uiara dormir!
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Henriqueta Lisboa
Emily Dickinson

De mim não tem medo a abelha.
A borboleta eu conheço.
A bela gente dos bosques
Me recebe cordialmente.
Se chego, riem mais alto os regatos,
Brinca a brisa mais travessa;
Por que então, olhos meus, vossa névoa de prata?
Ó claro dia estival, por quê?
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Emily Dickinson
Ficaram-me as penas - Cassiano Ricardo
O pássaro fugiu, ficaram-me as penas
da sua asa, nas mãos encantadas.
Mas, que é a vida, afinal? Um voo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas.
Passou o vento mau, entre açucenas,
deixou-me só corolas arrancadas...
Despedem-se de mim glórias terrenas.
Fica-me aos pés a poeira das estradas.
A água correu veloz, fica-me a espuma.
Só o tempo não me deixa coisa alguma
até que da própria alma me despoje!
Desfolhados os últimos segredos,
quero agarrar a vida, que me foge,
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cassiano Ricardo
HAIKAI - A. Estebanez
Sol nascente... As mãos
do dia vão desdobrando
a luz da alvorada...
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Afonso Estebanez
Posso escrever os versos mais tristes esta noite - Pablo Neruda
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Pablo Neruda
Crepúsculo de Outono - Manuel Bandeira
O crepúsculo cai, manso como uma bênção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito...
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.
O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.
Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.
Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale...o horizonte purpúreo...
Consoladora como um divino perdão.
O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.
A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito...
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito.
O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem. Toda a relva entra a murchar.
Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura unânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas.
Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale...o horizonte purpúreo...
Consoladora como um divino perdão.
O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.
A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Manuel Bandeira
Gesto Humano - Luís Vaz de Camões

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.
A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.
Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.
Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Luís Vaz de Camões
A doce canção - Cecília Meireles
Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.
Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve,no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.
Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.
O mistério do meu canto,
Deus não soube,tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
-todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!
Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o aumente,
para trazer o universo
de pólo a pólo contente.
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.
Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve,no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.
Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.
O mistério do meu canto,
Deus não soube,tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
-todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!
Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o aumente,
para trazer o universo
de pólo a pólo contente.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cecília Meireles
Tempo do homem - Atahualpa Yupanqui
A partícula cósmica que navega em meu sangue
é um mundo infinito de forças siderais.
Veio a mim através de um longo caminho de milênios
quando, talvez, fui areia para os pés de vento.
Logo, fui madeira, raiz desesperada
fundida no silêncio de um deserto sem água.
Logo, fui caracol quem sabe aonde.
E os mares me deram a primeira palavra.
Depois, a forma humana despejou sobre o mundo
a universal bandeira do músculo e da lágrima.
E brotou a blasfêmia sobre a velha terra
e o açafrão, e o trigo. A árvore e as pradarias.
Então vim à América para nascer um homem
e a mim se juntou o pampa, a selva e a montanha.
Sim, um velho da planície galopou até minha origem
outro me disse histórias em sua flauta de cana.
Eu não estudo as coisas nem pretendo entendê-las
as desconheço, é certo, pois antes vivi nelas
converso com as rochas em meio aos montes
e me dão sua mensagem as raízes secretas.
E assim vou pelo mundo, sem idade nem destino
ao lado de um cosmo que caminha comigo.
Amo a luz e o rio e o caminho, e a estrela.
E floresço em guitarras porque fui a madeira.
é um mundo infinito de forças siderais.
Veio a mim através de um longo caminho de milênios
quando, talvez, fui areia para os pés de vento.
Logo, fui madeira, raiz desesperada
fundida no silêncio de um deserto sem água.
Logo, fui caracol quem sabe aonde.
E os mares me deram a primeira palavra.
Depois, a forma humana despejou sobre o mundo
a universal bandeira do músculo e da lágrima.
E brotou a blasfêmia sobre a velha terra
e o açafrão, e o trigo. A árvore e as pradarias.
Então vim à América para nascer um homem
e a mim se juntou o pampa, a selva e a montanha.
Sim, um velho da planície galopou até minha origem
outro me disse histórias em sua flauta de cana.
Eu não estudo as coisas nem pretendo entendê-las
as desconheço, é certo, pois antes vivi nelas
converso com as rochas em meio aos montes
e me dão sua mensagem as raízes secretas.
E assim vou pelo mundo, sem idade nem destino
ao lado de um cosmo que caminha comigo.
Amo a luz e o rio e o caminho, e a estrela.
E floresço em guitarras porque fui a madeira.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Atahualpa Yupanqui
Nas cavernas do mar - Yorgos Seferis
Nas cavernas do mar
há uma sede, há um amor
há um êxtase
inabalável como as conchas
que você segura na palma da mão.
Nas cavernas do mar
durante dias contemplei teus olhos,
e não nos conhecemos.
Tradução: Priscila Manhães
há uma sede, há um amor
há um êxtase
inabalável como as conchas
que você segura na palma da mão.
Nas cavernas do mar
durante dias contemplei teus olhos,
e não nos conhecemos.
Tradução: Priscila Manhães
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Yorgos Seferis
tormenta - Vera Lúcia de Oliveira
o mar arremessava-se
contra o céu
a espuma rangia
e uns bicos de aves doídas
batiam na alma
batiam na alma
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Vera Lúcia de Oliveira
Hilda Hilst
Passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.
Tem nome de ninguém.
Não faz ruído. Não fala.
Mas passa com a sua fina faca.
Fecha feridas, é ungüento.
Mas pode abrir a tua mágoa
Com a sua fina faca.
Estanca ventura e voz
Silêncio e desventura.
Imóvel
Garrote
Algoz
No corpo da tua água passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.
Tem passado
Passa com a sua fina faca.
Tem nome de ninguém.
Não faz ruído. Não fala.
Mas passa com a sua fina faca.
Fecha feridas, é ungüento.
Mas pode abrir a tua mágoa
Com a sua fina faca.
Estanca ventura e voz
Silêncio e desventura.
Imóvel
Garrote
Algoz
No corpo da tua água passará
Tem passado
Passa com a sua fina faca.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Hilda Hilst
Campo, chinês e sono - Carlos Drummond de Andrade
A João Cabral de Melo Neto
O chinês deitado
no campo. O campo é azul,
roxo também. O campo,
o mundo e todas as coisas
têm ar de um chinês
deitado e que dorme.
Como saber se está sonhando?
O sono é perfeito. Formigas
crescem, estrelas latejam,
Peixes são fluidos.
E árvores dizem qualquer coisa
que não entendes. Há um chinês
dormindo no campo. Há um campo
cheio de sono e antigas confidências.
Debruça-te no ouvido, ouve o murmúrio
do sono em marcha. Ouve a terra, as nuvens.
O campo está dormindo e forma um chinês
de suave rosto inclinado
no vão do tempo.
O chinês deitado
no campo. O campo é azul,
roxo também. O campo,
o mundo e todas as coisas
têm ar de um chinês
deitado e que dorme.
Como saber se está sonhando?
O sono é perfeito. Formigas
crescem, estrelas latejam,
Peixes são fluidos.
E árvores dizem qualquer coisa
que não entendes. Há um chinês
dormindo no campo. Há um campo
cheio de sono e antigas confidências.
Debruça-te no ouvido, ouve o murmúrio
do sono em marcha. Ouve a terra, as nuvens.
O campo está dormindo e forma um chinês
de suave rosto inclinado
no vão do tempo.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Carlos Drummond de Andrade
Deve chamar-se tristeza - Fernando Pessoa
Deve chamar-se tristeza
Isto que não sei que seja
Que me inquieta sem surpresa
Saudade que não deseja.
Sim, tristeza - mas aquela
Que nasce de conhecer
Que ao longe está uma estrela
E ao perto está não a Ter.
Seja o que for, é o que tenho.
Tudo mais é tudo só.
E eu deixo ir o pó que apanho
De entre as mãos ricas de pó.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Fernando Pessoa
A vã pergunta - Vinícius de Moraes
Esta jovem pensativa, de olhos cor de mel
e de longas pestanas penumbrosas
Que está sentada junto àquele jovem triste
de largos ombros e rosto magro
É ela a amada dele e é ele o amado dela
e é a vida a sombra trágica dos seus gestos?
Este trem veloz cheio de homens indiferentes
e mulheres cansadas e crianças dormindo
Que atravessa esta paisagem desolada
de árvores esparsas em montes descarnados
É ele o movimento e é ela a fuga
e são eles o destino fugitivo das coisas?
Que dizem os lábios murmurantes dele
aos olhos desesperados dela?
Que pronunciam os lábios desesperados dela
aos olhos lacrimejantes dele?
Que pedem os olhos lacrimejantes dele
à paisagem fugindo?
Não são eles apenas uma só mocidade para o tempo
e um só tempo para a eternidade?
Não são seus sonhos um só impulso para o amor
e os seus suspiros um só anseio para a pureza?
Por que este transtorno de faces
e esta consumição de olhares como para nunca mais?
Não é um casto beijo isso que boia aos lábios dele
como um excedimento da sua alma?
Não é uma carícia isso que freme nas mãos dela
como um arroubo da sua inocência ?
Por que os sinos plangendo do fundo das consolações
como as vozes de aviso dos faróis perdidos?
É bem o amor essa insatisfação das esperanças?
e de longas pestanas penumbrosas
Que está sentada junto àquele jovem triste
de largos ombros e rosto magro
É ela a amada dele e é ele o amado dela
e é a vida a sombra trágica dos seus gestos?
Este trem veloz cheio de homens indiferentes
e mulheres cansadas e crianças dormindo
Que atravessa esta paisagem desolada
de árvores esparsas em montes descarnados
É ele o movimento e é ela a fuga
e são eles o destino fugitivo das coisas?
Que dizem os lábios murmurantes dele
aos olhos desesperados dela?
Que pronunciam os lábios desesperados dela
aos olhos lacrimejantes dele?
Que pedem os olhos lacrimejantes dele
à paisagem fugindo?
Não são eles apenas uma só mocidade para o tempo
e um só tempo para a eternidade?
Não são seus sonhos um só impulso para o amor
e os seus suspiros um só anseio para a pureza?
Por que este transtorno de faces
e esta consumição de olhares como para nunca mais?
Não é um casto beijo isso que boia aos lábios dele
como um excedimento da sua alma?
Não é uma carícia isso que freme nas mãos dela
como um arroubo da sua inocência ?
Por que os sinos plangendo do fundo das consolações
como as vozes de aviso dos faróis perdidos?
É bem o amor essa insatisfação das esperanças?
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Vinícius de Moraes
Ruço - Manuel Bandeira
Muda e sem trégua
Galopa a névoa, galopa a névoa.
Minha janela desmantelada
Dá para o vale do desalento.
Sombrio vale! Não vejo nada
Senão a névoa que toca o vento.
Lá vão os dias de minha infância
- Imagens rotas que se desmancham:
O vento do largo na praia,
o meu vestidinho de saia,
Aquele corvo, o vôo torvo,
O meu destino, aquele corvo!
O que eu cuidava do mundo mau!
Os ladrões com cara de pau!
As histórias que se faziam sonhar;
E os livros: Simplício olha para o ar,
João Felpudo, Viagem à roda do mundo
Numa casquinha de noz.
A nossa infância, ó minha irmã, tão longe de nós!
Galopa a névoa, galopa a névoa.
Minha janela desmantelada
Dá para o vale do desalento.
Sombrio vale! Não vejo nada
Senão a névoa que toca o vento.
Lá vão os dias de minha infância
- Imagens rotas que se desmancham:
O vento do largo na praia,
o meu vestidinho de saia,
Aquele corvo, o vôo torvo,
O meu destino, aquele corvo!
O que eu cuidava do mundo mau!
Os ladrões com cara de pau!
As histórias que se faziam sonhar;
E os livros: Simplício olha para o ar,
João Felpudo, Viagem à roda do mundo
Numa casquinha de noz.
A nossa infância, ó minha irmã, tão longe de nós!
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Manuel Bandeira
A avenida das lágrimas - Olavo Bilac
A um Poeta morto
Quando a primeira vez a harmonia secreta
De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira,
- Dentro do coração do primeiro poeta
Desabrochou a flor da lágrima primeira.
E o poeta sentiu os olhos rasos de água;
Subiu-lhe à boca, ansioso, o primeiro queixume:
Tinha nascido a flor da Paixão e da Mágoa,
Que possui, como a rosa, espinhos e perfume.
E na terra, por onde o sonhador passava,
Ia a roxa corola espalhando as sementes:
De modo que, a brilhar, pelo solo ficava
Uma vegetação de lágrimas ardentes.
Foi assim que se fez a Via Dolorosa,
A avenida ensombrada e triste da Saudade,
Onde se arrasta, à noite, a procissão chorosa
Dos órgãos do carinho e da felicidade.
Recalcando no peito os gritos e os soluços,
Tu conheceste bem essa longa avenida,
- Tu que, chorando em vão, te esfalfaste, de bruços,
Para, infeliz, galgar o Calvário da Vida.
Teu pé também deixou um sinal neste solo;
Também por este solo arrastaste o teu manto...
E, ó Musa, a harpa infeliz que sustinhas ao colo,
Passou para outras mãos, molhou-se de outro pranto.
Mas tua alma ficou, livre da desventura,
Docemente sonhando, às delícias da lua:
Entre as flores, agora, uma outra flor fulgura,
Guardando na corola uma lembrança tua...
O aroma dessa flor, que o teu martírio encerra,
Se imortalizará, pelas almas disperso:
- Porque purificou a torpeza da terra
Quem deixou sobre a terra uma lágrima e um verso.
Quando a primeira vez a harmonia secreta
De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira,
- Dentro do coração do primeiro poeta
Desabrochou a flor da lágrima primeira.
E o poeta sentiu os olhos rasos de água;
Subiu-lhe à boca, ansioso, o primeiro queixume:
Tinha nascido a flor da Paixão e da Mágoa,
Que possui, como a rosa, espinhos e perfume.
E na terra, por onde o sonhador passava,
Ia a roxa corola espalhando as sementes:
De modo que, a brilhar, pelo solo ficava
Uma vegetação de lágrimas ardentes.
Foi assim que se fez a Via Dolorosa,
A avenida ensombrada e triste da Saudade,
Onde se arrasta, à noite, a procissão chorosa
Dos órgãos do carinho e da felicidade.
Recalcando no peito os gritos e os soluços,
Tu conheceste bem essa longa avenida,
- Tu que, chorando em vão, te esfalfaste, de bruços,
Para, infeliz, galgar o Calvário da Vida.
Teu pé também deixou um sinal neste solo;
Também por este solo arrastaste o teu manto...
E, ó Musa, a harpa infeliz que sustinhas ao colo,
Passou para outras mãos, molhou-se de outro pranto.
Mas tua alma ficou, livre da desventura,
Docemente sonhando, às delícias da lua:
Entre as flores, agora, uma outra flor fulgura,
Guardando na corola uma lembrança tua...
O aroma dessa flor, que o teu martírio encerra,
Se imortalizará, pelas almas disperso:
- Porque purificou a torpeza da terra
Quem deixou sobre a terra uma lágrima e um verso.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Olavo Bilac
Jardim - Roseana Murray
Infinito é o jardim
das delicadezas,
semeado desde
o primeiro dia do mundo.
Há que alimentá-lo,
hora por hora,
com palavras e gestos
e pedaços de alma.
Há que ser incansável
jardineiro:
para este jardim
cada sorriso é um sol.
das delicadezas,
semeado desde
o primeiro dia do mundo.
Há que alimentá-lo,
hora por hora,
com palavras e gestos
e pedaços de alma.
Há que ser incansável
jardineiro:
para este jardim
cada sorriso é um sol.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Roseana Murray
Poda da amendoeira - Gabriela Mistral
A amendoeira eu podo e o céu vejo
com as minhas mãos enfim purificadas,
como se apalpam as faces amadas
com o semblante enlevado do desejo.
Como crio na estrofe mais sincera
em que o meu sangue vivo há de correr,
preparo o coração pra receber
o sangue imenso que há na Primavera.
Dá o meu peito à árvore o seu latido
e escuta o tronco, na seiva escondido,
meu coração como um cinzel profundo.
Os que me amavam julgam-me perdida
e é só o meu peito, aí sustido
na amendoeira, a minha entrega ao mundo.
com as minhas mãos enfim purificadas,
como se apalpam as faces amadas
com o semblante enlevado do desejo.
Como crio na estrofe mais sincera
em que o meu sangue vivo há de correr,
preparo o coração pra receber
o sangue imenso que há na Primavera.
Dá o meu peito à árvore o seu latido
e escuta o tronco, na seiva escondido,
meu coração como um cinzel profundo.
Os que me amavam julgam-me perdida
e é só o meu peito, aí sustido
na amendoeira, a minha entrega ao mundo.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Gabriela Mistral
Crepuscular - Fernando Py
O vento frio
de beira-mar
me envolve qual
diáfano abraço
e no arrepio
sinto meu corpo
todo encolher-se
aos grãos de sal
de úmido gosto
e já se esvai
de mim o dentro
e os lábios sinto
secos ao ar
e me estremeço
à aura marinha
e me reduzo
à só matéria
e denso desço
à noite em mim
enrodilhado
na areia inerte
e já me aqueço
volvido ao centro
branco do Nada.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Fernando Py
Ao Sol - Dora Ferreira da Silva
Naufragas na noite
em pompas de luz e imensidade
todo germe palpita na semente
e da nova manhã ressurges
clara divindade
nua a carnação sob o manto escarlate.
em pompas de luz e imensidade
todo germe palpita na semente
e da nova manhã ressurges
clara divindade
nua a carnação sob o manto escarlate.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Dora Ferreira da Silva
As chuvas - H. Dobal
Nas mãos do vento as chuvas amorosas
vinham cair nos campos de dezembro,
e de repente a vida rebentava
na força muda que as sementes guardam.
Nas ramas verdes rebentava a luz
e a doçura do tempo transformava
a terra e o gado na pastagem tenra,
na alegria dos rios renovados.
Cheiro de mato e de currais suspensos
no ar que os dedos do inverno vão tecendo
mais uma vez nos campos de dezembro.
E nos trovões a tarde acalentada,
cantigas de viver que a chuva traz
numa clara certeza repetida.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
H. Dobal
Os sinais - Lêdo Ivo
Saibam quantos vivem
neste mundo imenso:
Deus nao cheira a incenso.
É no estrume fresco
e na alga viscosa
que devemos ver
os sinais divinos
com os olhos de quando
éramos meninos.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Lêdo Ivo
Alumbramento - Manuel Bandeira
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!
Nem uma nuvem de amargura
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela... e sinto-a pura...
Eu vi nevar! Eu vi nevar!
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar!
Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma...
Eu vi a estrela do pastor...
Vi a licorne alvinitente!...
Vi... vi o rastro do Senhor!...
E vi a Via Láctea ardente...
Vi comunhões... capelas... véus...
Súbito... alucinadamente...
Vi carros triunfais... troféus...
Pérolas grandes como a lua...
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
- Eu vi-a nua... toda nua!
Oh, essa angélica brancura
Sem tristes pejos e sem véus!
Nem uma nuvem de amargura
Vem a alma desassossegar.
E sinto-a bela... e sinto-a pura...
Eu vi nevar! Eu vi nevar!
Oh, cristalizações da bruma
A amortalhar, a cintilar!
Eu vi o mar! Lírios de espuma
Vinham desabrochar à flor
Da água que o vento desapruma...
Eu vi a estrela do pastor...
Vi a licorne alvinitente!...
Vi... vi o rastro do Senhor!...
E vi a Via Láctea ardente...
Vi comunhões... capelas... véus...
Súbito... alucinadamente...
Vi carros triunfais... troféus...
Pérolas grandes como a lua...
Eu vi os céus! Eu vi os céus!
- Eu vi-a nua... toda nua!
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Manuel Bandeira
Noite - Cecília Meireles
Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada,
– tempo inseguro do tempo! –
sobra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.
Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
– lábio da voz sem ventura! –
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.
A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
– sozinho, com o seu perfume! –
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.
Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
– de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta
entre as estrelas e o vento.
cheiro de pedra lavada,
– tempo inseguro do tempo! –
sobra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.
Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
– lábio da voz sem ventura! –
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.
A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
– sozinho, com o seu perfume! –
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.
Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
– de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta
entre as estrelas e o vento.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cecília Meireles
Sei um ninho - Miguel Torga
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Miguel Torga
Noturno - Tasso da Silveira
Veleiro ao cais amarrado
em vago balouço, dorme?
Não dorme. Sonha, acordado,
que vai pelo mar enorme,
pelo mar ilimitado.
Se acaso me objetardes
que veleiro não é gente
e, assim, não sonha nem sente,
sem orgulhos nem alardes
eu direi: por que haveria
de falar-vos do homem triste
mas de olhar grave e profundo
que, à amargura acorrentado
sonha, no entanto, que vive
toda a beleza do mundo?
Melhor é dizer: Veleiro...
veleiro ao cais amarrado,
sob as límpidas estrelas.
Vela branca é uma alma trêmula,
sobretudo se cai sombra
do alto abismo constelado.
Veleiro, sim, que não dorme
mas na silente penumbra
sonha, ao balouço, acordado
que vai pelo mar enorme,
pelo mar ilimitado.
em vago balouço, dorme?
Não dorme. Sonha, acordado,
que vai pelo mar enorme,
pelo mar ilimitado.
Se acaso me objetardes
que veleiro não é gente
e, assim, não sonha nem sente,
sem orgulhos nem alardes
eu direi: por que haveria
de falar-vos do homem triste
mas de olhar grave e profundo
que, à amargura acorrentado
sonha, no entanto, que vive
toda a beleza do mundo?
Melhor é dizer: Veleiro...
veleiro ao cais amarrado,
sob as límpidas estrelas.
Vela branca é uma alma trêmula,
sobretudo se cai sombra
do alto abismo constelado.
Veleiro, sim, que não dorme
mas na silente penumbra
sonha, ao balouço, acordado
que vai pelo mar enorme,
pelo mar ilimitado.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Tasso da Silveira
Bolero de Ravel - Carlos Drummond de Andrade
A alma cativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador.
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto,
esquiva ondulação evanescente.
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa,
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Carlos Drummond de Andrade
A voz da chuva - Walt Whitman
E quem és? disse eu ao aguaceiro que cai suave,
Que, estranhamente, me deu esta resposta, aqui traduzida:
Eu sou o Poema da Terra, disse a voz da chuva,
Eterno ergo-me impalpável
da terra e do mar sem fundo,
Em direcção ao céu, de onde,
surgindo sob uma forma vaga,
completamente transformado e no entanto o mesmo,
Desço para banhar a aridez, os átomos,
as camadas de pó do globo,
E tudo o que nelas sem mim
seria apenas sementes adormecidas e por nascer;
E para sempre, de dia e de noite,
devolvo a vida à minha própria origem
e torno-a pura e embelezo-a,
(Porque a canção, saída da sua terra natal,
depois de cumprido o seu dever e ter deambulado,
Ouvida ou não na sua hora, regressa com amor).
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Walt Whitman
The Stolen Child - W.B. Yeats
Where dips the rocky highland
Of Sleuth Wood in the lake,
There lies a leafy island
Where flapping herons wake
The drowsy water rats;
There we've hid our faery vats,
Full of berrys
And of reddest stolen cherries.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
Where the wave of moonlight glosses
The dim gray sands with light,
Far off by furthest Rosses
We foot it all the night,
Weaving olden dances
Mingling hands and mingling glances
Till the moon has taken flight;
To and fro we leap
And chase the frothy bubbles,
While the world is full of troubles
And anxious in its sleep.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
Where the wandering water gushes
From the hills above Glen-Car,
In pools among the rushes
That scarce could bathe a star,
We seek for slumbering trout
And whispering in their ears
Give them unquiet dreams;
Leaning softly out
From ferns that drop their tears
Over the young streams.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
Away with us he's going,
The solemn-eyed:
He'll hear no more the lowing
Of the calves on the warm hillside
Or the kettle on the hob
Sing peace into his breast,
Or see the brown mice bob
Round and round the oatmeal chest.
For he comes, the human child,
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than he can understand.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
William B. Yeats
O vidente - Manoel de Barros
Primeiro o menino viu uma estrela pousada nas pétalas da noite
E foi contar para a turma.
A turma falou que o menino zoroava.
Logo o menino contou que viu o dia parado em cima de uma lata
Igual que um pássaro pousado sobre uma pedra.
Ele disse: dava a impressão que a lata amparava o dia.
A turma caçoou.
Mas o menino começou a apertar parafuso no vento.
A turma falou: mas como você pode apertar parafuso no vento
Se o vento nem tem organismo.
Mas o menino afirmou que o vento tinha organismo
E continuou a apertar parafuso no vento.
E foi contar para a turma.
A turma falou que o menino zoroava.
Logo o menino contou que viu o dia parado em cima de uma lata
Igual que um pássaro pousado sobre uma pedra.
Ele disse: dava a impressão que a lata amparava o dia.
A turma caçoou.
Mas o menino começou a apertar parafuso no vento.
A turma falou: mas como você pode apertar parafuso no vento
Se o vento nem tem organismo.
Mas o menino afirmou que o vento tinha organismo
E continuou a apertar parafuso no vento.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Manoel de Barros
A ponte de Van Gogh - Vinícius de Moraes
O lugar não importa: pode ser o Japão, a Holanda, a campina inglesa.
Mas é absolutamente preciso que seja domingo.
O azul do céu ecoa na esmeralda do rio
E o rio reflete docemente as margens de relva verde-laranja
Dir-se-ia que da mansão da esquerda voou o lençol virginal de miss
Para ser no céu sem mancha a única nuvem.
A calma é velha, de uma velhice sem pátina
As cores são simples, ingênuas
A estação é feliz: o guarda da ponte chegou a pintar
De listas vermelhas o teto de sua casinhola.
E, meu Deus, se não fossem esses diabinhos de pinheiros a fazer caretas
E a pressa com que o homem da charrete vai:
- A pressa de quem atravessou um vago perigo
Tudo estivesse perfeito,
e não me viesse esse medo tolo de a pequena ponte levadiça
Desabe e se molhe o vestido preto de Cristina Georgina Rosseti.
Que vai de umbrela
especialmente para ouvir a prédica do novo pastor da vila.
Mas é absolutamente preciso que seja domingo.
O azul do céu ecoa na esmeralda do rio
E o rio reflete docemente as margens de relva verde-laranja
Dir-se-ia que da mansão da esquerda voou o lençol virginal de miss
Para ser no céu sem mancha a única nuvem.
A calma é velha, de uma velhice sem pátina
As cores são simples, ingênuas
A estação é feliz: o guarda da ponte chegou a pintar
De listas vermelhas o teto de sua casinhola.
E, meu Deus, se não fossem esses diabinhos de pinheiros a fazer caretas
E a pressa com que o homem da charrete vai:
- A pressa de quem atravessou um vago perigo
Tudo estivesse perfeito,
e não me viesse esse medo tolo de a pequena ponte levadiça
Desabe e se molhe o vestido preto de Cristina Georgina Rosseti.
Que vai de umbrela
especialmente para ouvir a prédica do novo pastor da vila.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Vinícius de Moraes
Oferenda - Roseana Murray
Poesia é o que posso te oferecer
como um pouco de tempo claro
no fundo do tacho
como uma estrela de água
escuta: os pássaros forram a tarde
com seus invisíveis anseios
caminha com cuidado
o chão está armado
em cima de horizontes
tudo pode ruir de repente
essa casa de vento
meu coração
como um pouco de tempo claro
no fundo do tacho
como uma estrela de água
escuta: os pássaros forram a tarde
com seus invisíveis anseios
caminha com cuidado
o chão está armado
em cima de horizontes
tudo pode ruir de repente
essa casa de vento
meu coração
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Roseana Murray
Sombra - Cecília Meireles
Os homens passam pelas ruas misteriosas...
Ouvi ecoarem na noite
A sua loucura e o seu pavor...
Os homens olharam para dentro
E viram mistérios...
Os homens olharam para fora
E viram mistérios...
E foram pelas ruas misteriosas
Debatendo-se como pensamentos
Presos em círculos negros...
Ouvi ecoarem na noite
A sua loucura e o seu pavor...
Os homens olharam para dentro
E viram mistérios...
Os homens olharam para fora
E viram mistérios...
E foram pelas ruas misteriosas
Debatendo-se como pensamentos
Presos em círculos negros...
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Cecília Meireles
Tranquilidade na tarde - Olga Savary
A Liene T. Eiten
Ah, derramar-me líquida sobre o mar
– ser onda indefinidamente –
esperar pela primeira estrela
e dela ser apenas
espelho.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Olga Savary
Poema da purificação - Carlos Drummond de Andrade
Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.
As águas ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.
As águas ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Carlos Drummond de Andrade
Na fazenda - Manoel de Barros
Barulhinho vermelho de cajus
e o riacho passando
nos fundos do quintal...
Dali
se escutavam os ventos com a boca
como um dia ser árvore.
Eu era lutador de jacaré.
As árvores falavam.
Bugre Teotônio bebia marandovás.
Víamos por toda parte cabelos misgalhadinhos de borboletas...
Abriu-se
uma pedra
certa vez:
os musgos
eram frescos...
As plantas
me ensinavam de chão.
Fui aprendendo com o corpo.
Hoje sofro de gorjeios
nos lugares puídos de mim.
Sofro de árvores.
e o riacho passando
nos fundos do quintal...
Dali
se escutavam os ventos com a boca
como um dia ser árvore.
Eu era lutador de jacaré.
As árvores falavam.
Bugre Teotônio bebia marandovás.
Víamos por toda parte cabelos misgalhadinhos de borboletas...
Abriu-se
uma pedra
certa vez:
os musgos
eram frescos...
As plantas
me ensinavam de chão.
Fui aprendendo com o corpo.
Hoje sofro de gorjeios
nos lugares puídos de mim.
Sofro de árvores.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Partitura com Lua - Dora Ferreira da Silva

Notação de pássaros
nos fios da rua:
mínimas semínimas pausas.
Sobre o piano rosas estremecem.
Cadências de alma sobressaltam um público
desatento e ao relento ressoam
algumas dissonâncias (tropel de potros
presos numa sala). Mas por acaso em pura sintonia
pássaros refazem a partitura
no heptacorde dos fios da rua.
Ei-la tão plena no dia findo azulado-
a lua soberana e alta
do sono deste outono.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Dora Ferreira da Silva
Sorria - Fernando Py
Sorria.
Você está sendo roubado
todo santo dia.
Não chore.
Haverá sempre alguém
que o explore.
A vida causa transtornos?
Não se importe.
Você desliza suavemente
Para a morte.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Fernando Py
Poetas - Florbela Espanca

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Florbela Espanca
Aniversário - Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos
era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha,
estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje
(e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome,
sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez
com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares,
com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas
o resto na sombra debaixo do alçado
As tias velhas, os primos diferentes,
e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos
era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha,
estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje
(e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome,
sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez
com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares,
com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas
o resto na sombra debaixo do alçado
As tias velhas, os primos diferentes,
e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Fernando Pessoa
Pelo horizonte de areias - Cecília Meireles
Pelo horizonte de areias,
reclina-se a voz do canto.
A moça diz muito longe:
"Eu sou a rosa do campo..."
O beduíno para e escuta,
vestido de pensamento,
sozinho entre as margens de ouro
do ar e do deserto imenso.
"Eu sou a rosa do campo..."
E olhando para as ovelhas
sente o chão verde e macio
e flores pelas areias.
"Eu sou a rosa do campo..."
Mas tudo o que ouve e está vendo,
é poeira, apenas, que voa:
o vento da voz ao vento.
reclina-se a voz do canto.
A moça diz muito longe:
"Eu sou a rosa do campo..."
O beduíno para e escuta,
vestido de pensamento,
sozinho entre as margens de ouro
do ar e do deserto imenso.
"Eu sou a rosa do campo..."
E olhando para as ovelhas
sente o chão verde e macio
e flores pelas areias.
"Eu sou a rosa do campo..."
Mas tudo o que ouve e está vendo,
é poeira, apenas, que voa:
o vento da voz ao vento.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
A luz oblíqua - Sophia de Mello B. Andresen
A luz oblíqua da tarde
Morre e arde
Nas vidraças
Nas coisas nascem fundas taças
Para a receber,
E ali eu vou beber.
A um canto cismo
Suspensa entre as horas e um abismo
A vibração das coisas cresce.
Cada instante
No seu secreto murmurar é semelhante
A um jardim que verdeja e que floresce.
Morre e arde
Nas vidraças
Nas coisas nascem fundas taças
Para a receber,
E ali eu vou beber.
A um canto cismo
Suspensa entre as horas e um abismo
A vibração das coisas cresce.
Cada instante
No seu secreto murmurar é semelhante
A um jardim que verdeja e que floresce.
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Sophia de Mello B. Andresen
As Cores De Abril - Vinícius de Moraes
As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor
O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador
Não chora, me ouviu
Que as cores de abril
Não querem saber de dor
Olha quanta beleza
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção
Sou eu, o poeta, quem diz
Vai e canta, meu irmão
Ser feliz é viver morto de paixão
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor
O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador
Não chora, me ouviu
Que as cores de abril
Não querem saber de dor
Olha quanta beleza
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção
Sou eu, o poeta, quem diz
Vai e canta, meu irmão
Ser feliz é viver morto de paixão
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
Vinícius de Moraes
Assinar:
Postagens (Atom)