Legado - Carlos Drummond de Andrade
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
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Carlos Drummond de Andrade
Boa Noite! - Cecília Meireles

Ó noite, ó noite, ó noite!
Luar e primavera
E os telhados cobrindo
Sonhos que a vida gera!
Subo por essas horas
Solidária e sincera,
E encontro, exausta e pura,
Minha alma que me espera.
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Canção de Amor da Jovem Louca - Sylvia Plath
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)
Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a
insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do
inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.
Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)
Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com
estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha
mente.)
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Sylvia Plath
É preciso - Ivo Barroso

É preciso ser duro
como a pedra que parte
como a parte da pedra
que penetra a parede
e a parte
Como a rede que não vaza
como o vaso que não quebra
como a pedra que fende
o paredão da casa
E é preciso ser fraco
é preciso ter siso
e simulacro. É preciso
todos os dias vencer
os deuses pigmeus/golias
É preciso ter cara
e ter coragem
É cada vez mais raro
quem assim reage
É preciso ser duro
como o murro
como o muro
e é preciso ser doce
como se anteparo
de vidro
o muro fosse
É cada vez mais raro
ser duro e doce
cada vez mais torpe
ser apenas duro
cada vez mais nulo
ser apenas doce
cada vez mais duro
ser o muro e a nuvem
como se um só fossem.
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Ivo Barroso
O sol e a menina - Elias José

Hoje muito cedo,
o sol saiu.
A menina não acordou
e o sol sumiu.
Depois, mais tarde,
o sol voltou.
A menina deu sorriso
e o sol ficou.
Depois do meio-dia,
o sol esquentou.
A menina olhou pro céu
e o sol se encantou.
Hoje, muito tarde,
o sol se escondeu.
Ficou vendo a menina
e de partir se esqueceu.
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Raio de Sol - Fiama Hassa P. Brandão,
Raio de Sol na ombreira da porta,
na trave da cadeira, vindo da gelosia,
peço-te para amanhã voltares
mais arqueado pela esfericidade da Terra,
um raio não decididamente recto
cravado no meu tórax côncavo,
mas no meu coração curvo como um globo.
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Sonhar - Helena Kolody

Sonhar é transportar-nos em
asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da
harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar
o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da
fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil
que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e
zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no
deslumbrante paço,
De um sonho puro e bom, de
paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas
nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol
pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o
olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter ideal na
inglória lida:
Tão grande que não cabe
inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em
plagas deste mundo.
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Helena Kolody
Fui Sabendo de Mim - Mia Couto
Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia
pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem
poucos
e valerem só quando os perdia
fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei
eu vi
a árvore morta
e soube que mentia
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A eternidade - Arthur Rimbaud

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
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O Rio - Vinícius de Moraes
Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.
Um rio nasceu.
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Vinícius de Moraes
O Girassol / Vinícius de Moraes
Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.
O girassol é o carrossel das abelhas.
Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.
— Vamos brincar de carrossel, pessoal?
— "Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor. "
— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
— Borboleta tem que fingir de borboleta na
entrada!
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!
— "Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol".
E o girassol vai girando dia afora . . .
O girassol é o carrossel das abelhas.
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O Mundo do Sertão - Ariano Suassuna
Diante de mim, as malhas amarelas
do mundo, Onça castanha e destemida.
No campo rubro, a Asma azul da vida
à cruz do Azul, o Mal se desmantela.
Mas a Prata sem sol destas moedas
perturba a Cruz e as Rosas mal perdidas;
e a Marca negra esquerda inesquecida
corta a Prata das folhas e fivelas.
E enquanto o Fogo clama a Pedra rija,
que até o fim, serei desnorteado,
que até no Pardo o cego desespera,
o Cavalo castanho, na cornija,
tenha alçar-se, nas asas, ao Sagrado,
ladrando entre as Esfinges e a Pantera.
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Ariano Suassuna
Soneto do desmantelo azul - Carlos Pena Filho
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as
ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas
gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as
gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso
espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
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Carlos Pena Filho
Para a hora da dor - Emily Dickinson

Água, é a sede que ensina.
Terra, a travessia do mar.
Êxtase, a agonia.
Paz, o guerrear.
Amor, o retrato eterno,
Pássaros, o inverno.
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Emily Dickinson
Como árvore que sou - Lília Tavares / Joaquim Pessoa
Como árvore que sou
adormeço a sossegar as minhas folhas e
os pássaros transparentes que se agitam nos
ninhos
da minha inquietação.
Sei de cor os sonhos dos ventos
que balançam este corpo tronco
onde dedos vegetais bastam
o rumor das seivas silenciosas. A noite
propaga o ardor da ternura até às minhas
raízes
que vão bebendo lentamente as lágrimas de um
vento azul,
cuja dor deambula sobre as pedras, em oração à
terra,
para vir confortar-se em silêncio no mais
fundo de mim.
Escondo por dentro do nada os segmentos de
estrelas
que restaram da partida dos pólenes. Flutuam
na quietude das noites claras onde a chama do
leito
de açúcares permanece, visível no limbo da
noite.
Demoro neste entorpecimento idealizado o
termo, os
renovados filhos da gravidez da terra
e do incontrolado cio dos relâmpagos. Em mim
o verde se transforma em música, essa música
sem tempo,
que lembra toda a noite da floresta, toda a
serenidade
dos lagos, toda a doçura do ventre das baías.
Como árvore que sou, amo o vôo do pássaro e a
lonjura da terra. E sou a terra. E sou o
pássaro.
E a raiz do amor. E a raiz da sombra. E a raiz
solar
que me erguerá até à luz que me fascina
e me beija docemente a cabeleira lavada
de esperança. Sou a árvore. Um rio
de vida que sobe lentamente
as colinas do céu.
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Lília Tavares
Infância - Carlos Drummond de Andrade
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
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Carlos Drummond de Andrade
Príncipe - Ana Hatherly
Príncipe:
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me.
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Ana Hatherly
Canto Cigano - Cecília Meireles

Seus cabelos,
Balançavam com o vento.
Ela dançava,
Dançava de dia,
Dançava de tarde,
Dançava à noite.
À noite,
Enquanto os archotes brilhavam,
E punham nela muitos fulgores,
Ela sorria e sorria...
Para quem sorria?
Para ninguém.
Bastava, para ela,
Sorrir para si mesma.
Sorria...
Sufocando o pranto,
Que lhe inundava a alma.
Porque, se ela chorasse,
Todos choravam também.

E ela tinha que sorrir,
Cantar,
Dançar.
Bailando,
Como baila o vento,
Cantando,
Como cantam as aves,
Só, tão só...
E, no entanto, dona absoluta,
De todos os olhares,
De todas as mentes,
Que estavam ali.
Cada um achando,
Que era para eles que ela sorria,
Quando, na verdade,
Ela não sorria para ninguém,
Ela sorria para si mesma.
O tempo passou...
E, no vento tão forte,
Que muda a vida,
Mudando as pessoas de lugar,
Daqui para acolá.

Um dia,
Ela deixou de dançar,
Mas não deixou de cantar.
Mesmo na solidão dos pinheiros gelados,
Fazia, com os rouxinóis,
Um dueto encantado.
O rouxinol cantava de tristeza,
Ela cantava de saudade,
De dor...
Por onde andará?
Como estará a terra dos meus amores?
Aonde estarão aqueles,
Que pisam, firme, o chão?
Aonde estará o meu povo?
Será que estão como eu...
Na solidão?

Canta, cigana,
Canta...
Deixa que o vento da vida te carregue,
Que a brisa te abrace
E que as folhas te teçam arpejos,
Nos ninhos dos pássaros.
A solidão nos faz
Aprender a viver,
Dentro de nós,
Num castelo encantado.
Onde se é possível,
Chorar sozinha
E rir, feliz,
Para todos os passantes,
Caminhantes,
Andantes de muitas terras,
De muitos sonhos,
De muitas estradas.
Deixa voar,
O seu sonho de paz,
Porque, um dia, você terá.
Não chore,
Não chore, cigana,
Cante.
Porque, mesmo sem cantar,
Você encanta.
E, Mesmo chorando,
Você sorri.
Deixa o tempo passar,
Deixa as folhas voar,
Voar...
Porque, um dia,
Paz você terá!
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La vida es sueño - Hélio Pellegrino

A pedra
a pedra como o fogo
com suas resinas e ramas
a pedra como o fogo
é um sonho
de pálpebras abertas.
O sonho é quando
no veludo íntimo da noite
fogo e pedra se sonham:
— as pálpebras cerradas.
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Hélio Pellegrino
Encantamento - Tasso da Silveira
A tarde jogou os seus sete véus luminosos
sobre a montanha,
e ficou toda nua dançando
com sombras de crepúsculo
a escorrerem-lhe, suaves, pela pele dourada...
...e ficou toda nua dançando
na campina
ao som da harpa encantada do silêncio...
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Tasso da Silveira
O Filho do Século - Murilo Mendes
Nunca mais andarei de
bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos
cacheados
Adeus valsa "Danúbio
Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha
da Virgem
Não tenho forças para gritar
um grande grito
Cairei no chão do século
vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas
justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da
raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais
pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos voos
destruidores
É a hora das barricadas, dos
fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos
perdidos,
Misérias de todos os países
uni-vos
Fogem a galope os
anjos-aviões
Carregando o cálice da
esperança
Tempo espaço firmes porque me
abandonastes.
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Murilo Mendes
A todos e a cada um dos meus amigos - Joaquim Pessoa
Por um por todos por nenhum
faço o meu canto canto a
minha mágoa
num desencanto aberto pelo
gume
deste pranto tão limpo como a
água.
Por nenhum por todos ou por
um
eu dou o meu poema o meu
tecido
de palavras gravadas com o
lume
do medo que na voz trago
vencido.
Por nenhum por um mesmo por
todos
sou a bala e o vinho sou o
mesmo
que pisa as uvas os versos e
o lodo
num chão onde a coragem nasce
a esmo.
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Dizendo Adeus - Lya Luft
Estou sempre dando adeus:
também ao desencontro e ao
desencanto.
Estou sempre me despedindo
do ponto de partida que me lança de si,
do porto de chegada que nunca é
aqui.
Estou sempre dizendo adeus:
até a Deus,
para o reencontrar em outra esquina
de adeuses.
Estarei sempre de partida,
até o momento de sermos deuses:
quando me fizeres dar adeus à solidão
e à sombra.
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Lya Luft
Para os que virão - Thiago de Mello
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a
límpida
verdade dos nossos erros )
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
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Thiago de Mello
Para a manhã - Miguel Torga
Rosa acordada, que sonhaste?
Nas pálpebras molhadas vê-se
ainda
Que choraste...
Foi algum pesadelo?
Algum presságio triste?
Ou disse-te algum deus que
não existe
Eternidade?
Acordaste e és bela:
Vive!
O sol enxugará esse teu
pranto
Passado.
Nega o presságio com perfume
e encanto!
Faz o dia perfeito e acabado!
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